11ª Jornada

11ª Jornada - Cañaveral a Carcaboso – 40 quilômetros: “Superação!”:

  

Estava escuro, ventava forte e fazia muito frio quando deixei o Hostal às 6 h 30 min, porquanto, como a jornada seria longa, resolvi partir bem cedo.

Segui pelo asfalto até o final da zona urbana, contudo, naquele ponto as flechas simplesmente desapareceram. 

Procurei indícios de sinalização nas placas, árvores, mas, debalde. Assim, me sentindo inseguro e sem ter a quem recorrer, retornei a um posto de combustível localizado na saída da cidade.

Lá, aguardei a chegada de um funcionário que abriu o estabelecimento, exatamente às 7 h, quando pude, então, obter informações mais consistentes. 

Desse modo, segui pelo asfalto, em forte ascensão, até ultrapassar a estação ferroviária de Renfe, que deixei à minha direita.

Logo à frente acessei uma rotatória e, ainda pelo asfalto, tomei o rumo de Puerto de los Castanhos. Uns 200 metros depois, as flechas me conduziram a um caminho de terra, à esquerda, e logo  passei em frente de uma igrejinha dedicada a San Cristóbal.

Iniciou-se, então, forte subida na direção de um morro, através de uma senda “cortafuegos”,  onde no topo existe uma torre de repetição de sinais para TV. 

Ali, a paisagem mudou bruscamente e passei a caminhar por um frondoso bosque de pinheiros, em grande descenso, finalizando defronte um grande hotel, à beira da “N-630”.

A partir dali, o caminho seguiu em meio a agradável bosque de encinas e enormes fazendas de criação de gado. 

O terreno era plano e arborizado, o que, sem dúvida, tornou o trecho um dos mais belos e fáceis de todo o Caminho.

Mais à frente, há um muro de pedras, à esquerda, cuja extensão se perde no horizonte, sem contar as inúmeras cancelas que precisei abrir e fechar. 

Sem dúvida, um dos “tramos” mais interessantes e belos por onde passei.

No entanto, em certo lugar topei com 8 vacas, de enormes chifres, deitadas na trilha, que me olhavam fixamente. 

Aterrorizado, passei rapidamente entre elas, quase roçando-as (três eram negras e cinco vermelhas). 

É certo que me observavam com atenção, porém, não moveram um só músculo.. 

Aliás, um desafio superado, sob forte tensão. Ufa!!

Depois disso, percorri mais 3 quilômetros e visualizei setas indicando a entrada da cidade de Grimaldo, localizada a uns 500 metros do Caminho, à beira da “N-630”, onde existe um razoável albergue.

Mais à frente, caminhando por larga estrada de terra, num cruzamento chamado “Cuatro Términos”, seguindo a sinalização, fiz largo giro à direita e iniciei forte descida que terminou junto ao Embalse de Riolobos.

Na seqüência, acessei uma estrada em asfalto de pouquíssimo tráfego e segui por ela aproximadamente 1 quilômetro, até entrar à esquerda por larga e plana estrada de terra, em direção à “Finca Valparaíso”.    

Para minha surpresa, debaixo de uma árvore, dois peregrinos descansavam. 

Eram Karl e Walfrid, simpáticos alemães, que haviam pernoitado em Grimaldo. Karl se expressava bem em inglês, de maneira que pudemos conversar sem maiores dificuldades. 

Ao mesmo tempo ele servia de intéprete para Walfrid, pois, este só compreendia sua língua pátria.

Após uma pausa para fotos e curta prosa, segui adiante e depois de ultrapassar a “Fuente del Sapo”, prossegui tendo, à minha direita um grande canal, com importante volume de água, que serve para irrigar as hortas e plantações existentes naquele trecho.

Então, às 12 h, cheguei a um cruzamento, onde me quedei pensativo. 

Pois, as setas indicavam que deveria seguir à esquerda, por uma via de terra, em direção à Aldehuela del Jerte. Porém, os “monjóns” sinalizavam que eu deveria seguir adiante, por uma estrada asfaltada que coincide com a antiga calçada romana.

Naquela malfadada data, verificando meus mapas, optei pela segunda alternativa que, por certo, não foi uma boa escolha, pois, precisei superar inúmeras dificuldades, até atingir meu objetivo.

Estrategicamente, depois de minha experiência nesse trecho, concluí que a passagem por Galisteo, “la Ciudad Muralla”, além de encurtar significativamente o trajeto, é, sem dúvida, a melhor opção.

Desse modo, segui 11 quilômetros por asfalto, num trajeto dificílimo, sem sinalização e sob sol escaldante, até reencontrar a “N-630”. 

Então, fleti à esquerda e segui ainda por 2 quilômetros pela rodovia até atingir, às 14 h 30 min, a cidade de Carcaboso, minha meta naquele dia.

A pequena vila, cuja fundação data do século XIII, é famosa pela qualidade dos doces ali fabricados, como roscas, bolos de leite, quitutes, etc.. 

Ademais, apenas, 11 quilômetros, pela “carretera” EX-307, me separavam de Plasência, famosa cidade espanhola, uma das maiores da Província de Cáceres.

Assim, curioso, pesquisei o “estranho” nome “Carcaboso” que advém de “cárvara”, cujo significado é uma grande valeta ou canaleta produzida por uma corrente de água, provavelmente porque a cidade se encontra assentada sobre um terreno extremamente argiloso, onde o fenômeno da erosão é uma constante.

Ali fiquei hospedado na pensão de Dona Elena Carrascal Repilado (10 Euros), uma senhora simpática e amável, que se tornou uma das principais “referências” da Via de la Plata, posto que trata todos os peregrinos com extremado carinho e apreço. 

Por sinal, localizei-a descansando no bar Ruta de la Plata, que pertence a um de seus genros.

A construção do alojamento é recente, confortável e pode abrigar até 11 pessoas. 

Embora o banheiro seja de uso coletivo, tive a oportunidade de ocupar um quarto individual, onde existia 2 camas. 

Mais tarde chegaram os 2 alemães que havia ultrapassado, Karl e Walfrid, além de 2 ciclistas espanhóis.

Com Dona Elena, uma pessoa fantástica

Fiz minhas refeições no restaurante do novíssimo Hostal Ciudad de Cáparra (10 Euros), de excelente qualidade.

Mais tarde saí para fazer compras numa “tienda” e aproveitei para conhecer a igreja de Santiago Apóstolo, cujas colunas de sustentação na porta de entrada, exibem os números CII e CIII, anos 52 e 53 d. C, época áurea dos Imperadores Trajano e Adriano.

 

Resumo: Tempo gasto: 8 h - Sinalização: Um tanto ruim até Puerto de los Castanhos, depois torna-se excelente - Clima: Ensolarado, com temperatura variando entre 3 e 17 graus.

 

Impressão pessoal: Trajeto bonito e fácil nos primeiros 27 quilômetros do percurso. Após, bastante cansativo pelos derradeiros 13 quilômetros, feitos em asfalto, sob sol quente. Há que se considerar, também, a longa distância a ser percorrida nessa jornada. Importante: Optar pelo roteiro que passa pela cidade de Galisteo, sem dúvida, o mais atraente e de menor extensão.