A HISTÓRIA DESSE CAMINHO 

NA CIDADE DO PORTO - PORTUGAL

A primeira flecha do Caminho Português da Costa, localizada defronte à Catedral da Sé do Porto.

Proveniente de Tomar, eu desembarquei na estação ferroviária do Porto de manhã e, primeiramente, me hospedei no hotel Paulista, situado na área central, próximo do edifício que abriga a Câmara Municipal da cidade.

Na sequência, segui até a Catedral da Sé, onde pude carimbar minha Credencial peregrina, bem como percorrer longamente seu interior e o claustro anexo.

Depois, fui rever uma impressionante construção: a Ponte Dom Luiz I.

Em seguida, me dirigi à Estação de São Bento, onde tive a oportunidade de admirar seu belíssimo “hall” de azulejos, que recordam a vitória dos portugueses sobre as tropas castelhanas na batalha de Aljubarrota.

E, ainda, contemplar a parte externa da Torre dos Cléricos, o monumento mais destacável do perfil portuense, construído em 1754, por um arquiteto italiano, num primoroso estilo barroco.

Diante da Catedral da Sé do Porto, pronto para iniciar minha peregrinação a Santiago.

A cidade do Porto tem origem num povoado pré-romano, e é conhecida como a Cidade Invicta.

Foi ela que deu o nome a Portugal – desde muito cedo, no século 200 a.C., quando se designava de Portus Cale, vindo mais tarde a tornar-se a capital do Condado Portucalense.

No ano de 868, Vímara Peres, fundador da terra portugalense, teve uma importante contribuição na conquista do território aos Mouros, restaurando assim a cidade de Portucale.

Vista da cidade do Porto, desde a Catedral da Sé do Porto.

Em 1111, Dona Teresa, mãe do futuro primeiro rei de Portugal, concedeu ao bispo Dom Hugo, o couto do Porto e das armas da cidade, tanto é que a condecoração faz parte da imagem de Nossa Senhora.

Daí o fato de Porto ser também conhecido por “cidade da Virgem”, epítetos a que se devem juntar os de "Antiga, Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta", que lhe foram sendo atribuídos ao longo dos séculos e na sequência de feitos valorosos dos seus habitantes, e ratificados por decreto de Dona Maria II de Portugal.

Dentro dos seus muros se efetuou o casamento do rei Dom João I com a princesa inglesa Dona Filipa de Lencastre, e a cidade se orgulha por ter sido o berço do infante Dom Henrique, o navegador. 

O belíssimo rio Douro e, ao fundo, a ponte Dom Luiz I.

Os naturais do Porto ganharam a alcunha de "tripeiros", uma expressão mais carinhosa que pejorativa, posto que é também esta a razão pela qual o prato tradicional da cidade ainda é, hoje em dia, as “Tripas à moda do Porto”.

Tanto que existe uma confraria especialmente dedicada a este prato típico.

Alberga numa das suas muitas igrejas - a da Lapa - o coração de Dom Pedro IV de Portugal, que o ofereceu à população da cidade em homenagem ao contributo dado pelos seus habitantes à causa liberal. 

Vista geral da belíssima Catedral da Sé da cidade do Porto.

HISTÓRIA DO CAMINHO PORTUGUÊS DA COSTA

Alguns acreditam que, sem o conhecimento dos fatos, este Caminho é uma mera atração turística e não tem história ou tradição jacobeia.

Nada é mais longe da realidade, pois, como vamos descobrir em breve, esta rota já era usada por peregrinos locais a partir do século XII, embora mais, assiduamente, a partir do XVI.

Tanto é, que temos prova em lugares como a Vila do Conde e Viana do Castelo, também, há nos muitos templos dedicados ao Apóstolo Santiago durante a Idade Média no norte de Portugal (na verdade, Santiago foi durante séculos o padrão nacional Português, antes de passar para a invocação de São Jorge, após disputas com a Espanha, até então ambos os reinos estavam sob o mesmo padrão, um fato difícil de justificar durante as batalhas - e a frutífera aliança de Portugal com a Inglaterra).

O mais palpável é que estamos diante de uma estrada milenar, pois encontramos na igreja de Castelo do Neiva, a poucos quilômetros de Viana, onde há uma inscrição do ano 862, em que o Bispo de Coimbra ao encontrar o templo consagrou-o, dedicando-o a Santiago, apenas 30 ou 40 anos após a descoberta do túmulo do apóstolo, talvez, seja a primeira igreja na península dedicado a ele.

É claro que isto ocorreu após o culto do templo primitivo erguido em Compostela.

Ainda há muito a estudar sobre “inventiocompostelana”, especialmente, sobre sua relação com os conflitos entre a sede arquiepiscopal e a disputa sobre o controle do território da antiga “Gallaecia”, e os resultados podem ter o potencial de minar a história oficial, que até agora nos foi imposta.

Sabe-se que na Idade Média não havia rotas - nem jacobeias, nem comerciais - ao longo da costa, tanto no cantábrico, como no Atlântico, por razões óbvias: pânico aos ataques usuais dos vikings, normandos e piratas sarracenos, febres insalubres e malária, isto porque havia várias zonas pantanosas, falta de pontes, dificuldade de atravessar o curso inferior e a foz do rios, a pobreza das aldeias de pescadores, cujas terras eram salobras, etc.

Apenas alguns portos bem colocados na foz dos rios - Porto, Vila do Conde, Viana do Castelo e Baiona, cresceram como enclaves de comércio marítimo, tanto a cabotagem costeira quanto, posteriormente, a oceânica.

Muitos peregrinos vieram até essas portas por mar e seguiram a pé ou a cavalo, ao longo dos caminhos, tomando qualquer rota que ligasse o litoral ao interior.

Além de milhares de peregrinos anônimos, muitas pessoas famosas utilizaram, em algum momento, essa rede de estradas costeiras, muitas vezes na viagem de regresso, depois de sua peregrinação, assim como o rei D. Manuel I, que em seu retorno de Compostela, em 1501, passou por Vila do Conde e Azurara; nós também temos notícias da passagem de Claude de Bronseval (1531), Giovanni Battista Confalonieri (1594), o príncipe Cosimo III de Medici (de 1669), cronistas Gian-Lorenzo Buonafede (que passaram por Matosinhos em 1717), ou Bouncy Nicola Albani (em 1743 e 1745, na última volta de Vigo).

Já na Galícia, a rota monástica que os monges cistercienses percorreram desde o século XII, é conhecida entre Oia e Baiona, e aquela conectada com a antiga estrada romana, cuja direção ia a Iria Flavia e Compostela.

Estamos, portanto, confrontados com uma rota Jacobeia, suficientemente documentada, mas que viveu por muitos anos na sombra do caminho principal para Ponte de Lima e Tui, que sempre movimentado de caminhantes.

A sua recuperação como rota jacobeia é recente, desde que o estudo começou e a sinalização apontava em direção a Compostela, em 1993, mas seu reconhecimento oficial pela Xunta de Galicia, só veio em 2010.

Desde então, o número de peregrinos que por ela transita cresce, ano após ano.

Na Espanha, esta rota costeira discorre, em primeiro lugar, na direção oeste e caminha paralelo ao rio Minho, até chegar ao seu amplo estuário.

Dominando a paisagem, se encontra o monte de Santa Trega, grande mirador do Atlântico e de Portugal, célebre por seu incrível castro, parcialmente, escavado, um grande povoado que chegou ao seu ponto culimante durante à época romana.

Nas faldas desse monte se encontra o porto de A Guarda, que oferece um excelente abrigo para a frota pesqueira.

O roteiro prossegue paralelo à linha costeira, escarpada e agreste, em direção do norte.

Passa por Oia, localidade portuária, célebre por seu monastério cisterciente, depois, dobra o Cabo Silleiro, para penetrar num território mais resguardado: a precioso "ría de Vigo".

Em primeiro lugar se chega a Baiona, vila histórica de encantadoras ruas e praças, igreja do século XIII, capela barroca dedicada a Santa Liberata e a espetacular fortaleza de Montemaior, na atualidade, um luxuoso hotel turístico.

Ela foi a primeira localidade em conhecer o êxito da primeira viagem de Colombo à América, ao chegar em seu porto, a caravela Pinta, em 28 de fevereiro de 1493.

Ultrapassada a ponte medieval de A Ramallosa, a rota se dirige até Panxón (Nigrán), localidade conhecida pelo Templo Votivo do Mar, de arquitetura original e eclética, construída por Antônio Palácios entre 1932-1937, sobre os restos de uma igreja visigoda do século XII, no areal da praia América.

Algo mais ao norte, o caminho encontra com a beleza da enseada de Samil e, pouco depois, com a populosa cidade de Vigo, em cujo casco urbano não falta igreja dedicada ao Santo Apóstolo.

Depois de Vigo a rota enlaça em Redondela com o Caminho Português Central.