14ª Jornada - EL PERAL a LHANES

14ª Jornada – El Peral a Lhanes - 24 quilômetros: “A volta do mar!”  

O percurso daquela data se afigurava tranquilo, pois o guia informava que eu não enfrentaria grandes oscilações altimétricas, porém era domingo, e eu tencionava aportar ao meu destino a tempo de curtir um bom almoço.

Dessa forma, como o primeiro trecho seria feito todo em asfalto, levantei às 6 h e, ainda no escuro, às 7 h, deixei o local de pernoite e prossegui pelo acostamento de N-634, em direção ao meu destino.

Chovera a noite toda, porém no momento em que iniciei a jornada, o clima se apresentava frio e ventoso, com muita nebulosidade, contudo o tempo prometia melhorar, pois não havia nenhuma nuvem ameaçadora no céu.

Seria verdade, pensei, que o sol iria me alegrar com sua presença?

Bem, dois quilômetros caminhados, eu passei por La Franca, um povoado à beira da “carretera” que não oferece nenhum tipo de serviço ao peregrino, aliás, o único bar existente no local ainda estava fechado, de forma que prossegui adiante.

Logo à frente, as flechas me direcionaram à esquerda para um caminho em terra, cheio de lama.

 Contudo, após uns 500 m, tive meus passos obstruídos pelas obras da Autovia Nacional, assim, desapontado, precisei refazer o caminho de volta e prosseguir pela rodovia.

A certa altura, o paredão rochoso que me seguia pelo lado direito abriu uma brecha e eu, ao olhar à distância, pude avistar, ainda que por breves momentos, a pequena praia de La Franca e, nela, observei o azulíssimo mar Cantábrico.

Mais alguns quilômetros caminhados e chequei à Perduelas, outra cidade plantada à beira da rodovia, onde existe a opção de adentrar em um caminho que segue paralelo ao mar e vê-lo a curta distância, porém meu guia advertia que tal roteiro deveria ser prestigiado apenas com bom tempo.

E como a intempérie se abatera com violência na noite anterior, inferi que poderia encontrar trechos alagados ou com muito barro pelas trilhas que enfrentaria, de forma que, prudentemente, prossegui pelo acostamento que, embora fosse um trajeto sem graça, ao menos era seguro.

Como era um domingo, o trânsito de veículos era praticamente nulo, de forma que me sentia confiante e bastante tranquilo em minha jornada.

Mais adiante passei no pequeno povoado de Bufones de Arenillas e ali as flechas me encaminharam para uma senda, em terra e bastante arborizada, que seguia por locais desertos e bastante úmidos.

Foi, sem dúvida, um belo refresco em minha jornada, pois durante uns 2 quilômetros tive apenas a companhia de árvores, flores e muito silêncio.

No entanto, logo adiante retornei ao asfalto e prossegui por ele até Andrín, um local bastante urbanizado e movimentado, onde avistei além de excelentes restaurantes, também muitas indústrias e algumas concessionárias de automóveis.

Na sequência, passei por Cue, pequeníssima vila e depois de fazer uma grande curva para fugir das obras que estão sendo realizadas na Autovia Nacional, adentrei em perímetro urbano.

Contudo, ainda precisei caminhar uns 3 quilômetros antes de aportar no “casco viejo” de Lhanes, minha meta para aquele dia.

A cidade, cuja fundação oficial, remonta ao ano de 1.206, por Alfonso IX, uma das mais belas e limpas que encontrei em todo meu périplo, foi num passado distante, uma das povoações mais prósperas do litoral asturiano e dessa época ainda restam bons vestígios, como as muralhas que cercam seu centro, construídas no século XIII e ainda perfeitamente preservadas.

Documentos históricos atestam que no ano de 1.330, o presbítero Juan Pérez de Cue, fundou um hospital “para servir de albergue aos peregrinos nacionais e estrangeiros, que por ela transitavam rumo à Santiago de Compostela”.

De seus edifícios históricos, estão bem conservados o palácio de los Castañagas e um elegante torréon do século XIII, declarado monumento nacional.

A pomposa construção hoje abriga a Oficina de Turismo do município, por sinal, local em que carimbei minha credencial peregrina.

Na cidade fiquei alojado numa pensão e para almoçar utilizei um dos inúmeros restaurantes que estão alocados em suas ruas ancestrais.

Mais à tarde, após uma boa soneca, fui à beira mar e pude visitar suas belíssimas praias, que tanto cativaram diretores de cinema e escritores ao longo dos anos, como a de San Martin (cenário de várias películas), Toró, El Sabión, e La Ballota, dentre outras.

Por sinal, essa região faz parte da Costa Verde da Espanha, conhecida por sua paisagem composta por baías e montanhas espetaculares, cujo ponto alto é “Os Picos da Europa”.

Na verdade, a cidade é um porto pesqueiro tradicional e muito ativo, com inúmeros monumentos e tradições notáveis, tanto que nesse local, uma placa faz alusão aos 65 marinheiros filhos dessa urbe, que embarcaram em quatro galeras, para formar parte da Armada Invencível, que lutou contra a Inglaterra, em julho de 1.588.

Ali também pude observar uma das artes modernas mais curiosas e impactantes: trata-se dos “Cubos de la Memória”, um trabalho do pintor Agustín Ibarrola sobre os gigantescos cubos de cimentos utilizados para formar um dique de contenção no porto da cidade.

Na sequência, pude conhecer um dos maiores símbolos desta simpática e progressista cidade: a igreja em estilo românico-gótica de Santa Maria de Concejo, toda erigida em pedra, cuja construção data dos meados do século XII.

À noite, como de praxe, optei por um simples lanche no quarto, onde estava pernoitado, e logo fui dormir, pois estava bastante cansado.

IMPRESSÃO PESSOAL – Uma etapa relativamente curta e sem grandes dificuldades, porém, como as anteriores, quase que na integralidade cumprida em asfalto. No entanto, em meio a muito verde e, para coroar, a cidade de Lhanes, um local simpático, limpo e de beleza ímpar. Tudo isso fez a diferença nessa jornada.

15ª Jornada - LHANES a RIBADESELLA