14ª etapa – ALFARO à CALAHORRA – 27 quilômetros

14ª etapa – ALFARO à CALAHORRA – 27 quilômetros

Na vida a gente tem que se arriscar!

Pronto para iniciar a jornada do dia.

Teria uma jornada de média dimensão e, como as anteriores, sem dificuldades altimétricas.

Assim, optei por sair com o dia claro e deixei o local de pernoite às 7 horas.

Um termômetro instalado no frontispício de uma farmácia marcava 3 °C quando passei na praça central da cidade.

Ventava bastante, mas a meu favor, de forma que sem maiores problemas, passei próximo da Plaza de Toros e, mais adiante, acessei a rodovia N-232, e por ela segui uns dois quilômetros.

Igreja de Nossa Senhora del Pilar.

Mais adiante, passei ao lado da igreja de Nossa Senhora del Pilar e, logo depois, as flechas amarelas me remeteram à direita.

O sol ameaça dar as caras...

Seguindo à sinalização, por um viaduto, eu passei sob as vias férreas, depois segui caminhando por uma plana e larga estrada de terra.

Caminho plano, à beira da via férrea.

O sol já ameaçava despontar, porém a presença de nuvens escuras no céu me preocupavam, vez que novamente deixara minhas capas protetoras no fundo da mochila.

O roteiro seguiu entre grandes plantações de trigo e uva, a tônica nessa etapa.

Mas, em determinados trechos, também avistei o cultivo maciço de pêssegos, alcachofras e, principalmente, de peras.

Do lado esquerdo, uma grande plantação de alcachofras.

Aliás, a cidade de Rincón de Soto, para onde eu me dirigia, é uma das maiores produtoras desse fruto em toda a Espanha.

Na verdade, conforme li mais tarde, as peras aqui colhidas, levam a “Denominação de Origem” e são frutos da espécie Pyrus Communis L, procedentes das variedades Blanquilla e Conferencia, das categorias "Extra" e "I", destinados a serem consumidas frescas.

No caminho, em direção a Calahorra. Para variar, trajeto silencioso e deserto.

A pera produzida nessa “Zona Geográfica Protegida”, por onde eu caminhava, é mais grande, de forma mais alargada, mais doce, algo mais dura e com casca mais verde que outras produzidas nas zonas limítrofes, adquirindo maior valor no mercado.

O sol finalmente saiu, aqueceu o ambiente e deixou a paisagem viva e colorida.

Grandes parreirais em ambos os lados da trilha.

Eu seguia integralmente solitário e, como em outras etapas, também não avistei vivalma, nem veículos me ultrapassaram.

Trajeto deserto, com o sol já nascente.

Apesar disso, não me sentia sozinho, pois podia fazer minhas orações em silêncio, contemplar a natureza, respirar o ar puro, caminhar sem pressa, bem como me conectar com o sagrado de forma íntima.

Do lado direito, uma grande plantação de peras.

E são esses momentos de intensa introspecção que eu persigo em minhas jornadas, sejam em caminhos de cunho religioso ou não.

Atravessando sob a Autovia Nacional.

Finalmente, vencidos 10 quilômetros, por um túnel eu passei sob a Autovia Nacional e, um quilômetro à frente, adentrei em zona urbana.

Chegando à Rincón de Souto.

As flechas me direcionaram para o centro da urbe e, numa praça, pude fotografar uma concha estilizada, homenagem aos peregrinos que por aqui transitam.

Rincón de Souto possui 3800 habitantes, que vivem exclusivamente da agricultura.

Monumento aos peregrinos.

Povoação relativamente jovem, era distrito de Calahorra até 1670, quando o rei Carlos II a emancipou.

Seguindo adiante, logo cheguei à igreja matriz da cidade, cujo padroeiro também é São Miguel Arcanjo.

Igreja matriz da cidade.

Fiz fotos no local, depois deixei a cidade pela Avenida Rioja, uma via larga, ajardinada e de bonito traçado.

Caminhando ao lado de um canal de irrigação.

Segui, na sequência, por uma rodovia vicinal asfaltada, que seguiu um bom tempo paralela a um canal de irrigação desviado do rio Madre.

E como a cidade de Calahorra foi edificada no topo de uma pequena elevação, eu já conseguia avistá-la no horizonte.

Imensas plantações de peras.

Mas eu ainda precisaria caminhar uns 15 quilômetros para chegar ao meu destino final.

O caminho prosseguiu plano e, embora fosse asfaltado, praticamente não cruzei com nenhum veículo nesse tramo.

Pereiras do lado esquerdo.

Ao meu lado prosseguiram, quase o tempo todo, extensas culturas de pera e pêssego.

Calahorra esteve sempre no horizonte.

E, claro, de uvas também.

Mais pereiras e pessegueiros.

O sol brilhava sem força, num céu azul quase sem nuvens, e eu seguia tranquilo e em paz com o mundo.

Em determinado ponto, o rio Ebro fez um grande meandro e eu passei ao lado dele.

Mais uma momento precioso na trilha.

Mas logo nos separamos e eu só iria avistá-lo novamente, a partir da metade da jornada seguinte.

Nesse trecho, retornaram os vinhedos.

O caminho, quase integralmente retilíneo e muito bem sinalizado, me conduziu sem problemas até os arredores de Calahorra.

Mas antes, por uma ponte, eu atravessei o importante Canal de Lodosa e, quase em seguida, por um túnel, eu atravessei sob as vias férreas.

No caminho, em direção a Calahorra. A cidade já está a vista.

Então, segui caminhando por uma rodovia bastante movimentada e logo adentrava em zona urbana.

Catedral de Santa Maria.

Na entrada dessa belíssima urbe pude visitar e fotografar a Catedral de Santa Maria, uma construção de estilo gótico, que atualmente está em reformas.

Depois segui em leve ascenso e logo cheguei ao centro dessa fantástica urbe.

Então, tomei informações com um taxista e logo aportava ao Hostal Teresa, onde havia feito reserva.

Ali, por 30 Euros, pude dispor de um excelente quarto individual.

Depois das providências de praxe, fui almoçar num dos muitos restaurantes existentes na cidade, onde paguei 12 Euros por um delicioso “menu del dia”.

Em seguida, descansei.

Uma das muitas e bem cuidadas praças da cidade.

A antiga povoação celtíbera de Kalakoricos foi conquistada por Roma no ano 187 a.C, passando a denominar-se Calagurris Julia Nassica.

Por isso, ela oferece uma grande variedade de monumentos e locais históricos, todos de origem romana.

Praça principal da belíssima cidade de Calahorra.

Ademais, é a terra do grande mestre em oratória Marco Fábio Quintiliano, autor de vários textos e grande maestro na corte romana.

Em sua honra se erigiu uma estátua, localizada diante do prédio do Ayuntamento.

O prédio onde funciona o Ayuntamiento da cidade.

A cidade, historicamente falando, é outro ícone do Caminho del Ebro, pois, desde priscas eras, sediava a Casa de Moedas, com emissões próprias, privilégio que manteve até a Idade Média.

Após o domínio árabe, Garcia III “El de Nájera”, conquistou definitivamente a cidade no ano 1045 e sua possessão se alternaram entre domínios navarros, aragoneses e castelhanos.

Enrique II “El Trastámara” foi proclamado rei, em 1366, nesta cidade.

Homenagem a Júlio Longinos.

Conta com a Catedral de Santa Maria, a primeira da Diocese, e sede bispal desde o século IV.

O martírio dos legionários romanos Celedonio e Emétrio, segundo a tradição, decapitados no ano 300, deu início a sua construção que durou mais de 200 anos, e onde repousam as principais relíquias de ambos os santos, cujas cabeças estão guardadas atualmente, em Santander, na Catábria.

Cidade belíssima!

Calahorra está situada junto à desembocadura do rio Cidacos no rio Ebro, que concebem um vale especialmente fértil, formado por terras fluviais inundadas, muito propícias para a exploração agrícola.

Essa foz se completa com várias obras hidráulicas, dentre as quais se destaca o Canal de Lodosa e uma rede de canais de irrigações.

Sua população atual é de aproximadamente 25.000 habitantes.

Homenagem a Marco Fábio Quintiliano.

Mais tarde, antes de tudo, fui verificar cuidadosamente por onde transitaria no dia seguinte quando deixasse a cidade, porque teria uma longa jornada a vencer.

Porquanto, como toda urbe em desenvolvimento, obras haviam sido feitas na região, como duplicação de rodovias, criação de novos bairros, aumento das avenidas periféricas, etc..

E, curiosamente, não vi nenhuma flecha amarela pintada no trecho urbano, assim, teria que confiar nas instruções apostas no guia que portava e em meu GPS.

A data é: 31 de agosto de 1878.

Assim, após me certificar que, em princípio, não teria problemas, fui visitar a igreja de Santiago, uma construção em estilo neoclássico, do século XVII.

Posteriormente, dei um grande giro pela parte nova da cidade, onde existem alamedas largas e praças muito bem cuidadas;

Também observei muitas estátuas homenageando os fundadores da localidade, bem como seus filhos proeminentes.

O "Rollo Consistorial" de Calahorra.

Numa de suas inúmeras praças, pude fotografar um “Rollo Consistorial”.

Trata-se de um monumento medieval, reconstruído no século XVI, que, colocado na entrada da cidade, avisava o viajante de que Calahorra era uma cidade livre e independente, onde seu governante tudo decidia, e que só dependia da autoridade do rei.

Dados sobre "La Picota".

Distinguindo-se, assim, dos povoados e vilas que estavam vinculados a um Senhor Feudal.

Nesse lugar, também denominado “La Picota”, eram expostos à vergonha pública os malfeitores que haviam cometido algum delito na cidade.

Outra belíssima praça da cidade.

À noite, optei por ingerir um lanche com os víveres que havia adquirido num supermercado, acompanhado por uma insuperável garrafa de vinho tinto riojano.

Até porque, fazia bastante frio novamente, temperatura ao redor dos 6 °C.

No "Paseo del Mercadal", local por onde eu deixaria a cidade no dia seguinte.

E logo me recolhi, pois a jornada seguinte seria bastante extensa e cansativa.

A mais pura verdade...

Internamente, me regozijava, pois eu estava a apenas 58 quilômetros de Logroño, a derradeira cidade do Caminho do Ebro.

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