1ª Etapa: ALFENAS à BAIRRO MATÃO (ALFENAS) – 22 quilômetros

1ª Etapa: ALFENAS à BAIRRO MATÃO (ALFENAS) – 22 quilômetros

"Poderosa Novena à Nossa Senhora Aparecida: 1° DIA - Ó Maria puríssima, cuja pureza intemerata foi já outrora figurada naquela misteriosa sarça, que rodeada de chamas permanecia ilesa, por piedade extingui em nós o fogo da maldita concupiscência, pela qual muitas almas vão arder miseravelmente nas chamas do Inferno."

Em todo início de Caminho sempre fico preocupado e tenso por “n” motivos e, por conta disso, nunca consigo dormir com serenidade.

Desta vez, também não foi diferente, tanto que acordei várias vezes durante a noite, a tergiversar sobre o porquê da minha presença naquele local, prestes a iniciar um novo roteiro.

Assim, às 4 h eu já estava em pé, me preparando para o percurso do dia.

O café da manhã somente foi servido às 6 h 30 min, de modo que pude refletir, orar, rever a planilha informativa para aquela etapa, fazer alongamentos, enfim, tive tempo até para sair às 6 h e dar um giro pela ruas vizinhas.

Na Praça Getúlio Vargas, a principal da cidade, onde, inclusive, está localizada a igreja matriz de São José, encontrei o Sr. Geraldo, um aposentado da Prefeitura Municipal local, sentado num banco do jardim, e parei para conversar.

Foram momentos interessantes e únicos, enquanto a urbe lentamente despertava.

No final de nosso agradável colóquio, eu contei a ele que naquele dia eu estava partindo a pé, em direção à Aparecida.

Ele, então, emocionado, pediu que eu me lembrasse de sua família diante da Santa, pois tinha um filho, casado, pai de 4 filhos, que estava desempregado.

Particularmente, ele também estava com graves problemas de saúde e ainda estava em dúvida se devia submeter a uma delicada cirurgia.

Despedi-me comovido, prometendo lembrar de seu nome quando aportasse à miraculosa Basílica de Nossa Senhora Aparecida.

Defronte ao Portal do Caminho de Aparecida, no início da nossa aventura

No hotel, após ingerir o desjejum, tomamos um táxi: Célia e eu, e, vinte minutos depois, estávamos diante do Portal do Caminho, localizado diante da igreja de São Francisco de Assis, no bairro Pinheirinho, que está 4 quilômetros distante do centro de Alfenas.

O Rodrigo também já se encontrava no local, e além de conversarmos sobre o trajeto do dia, pudemos registrar algumas fotos daquele breve, mas inesquecível momento.

Depois de fraternais despedidas, principiamos a caminhar em direção ao centro da cidade, e não encontramos dificuldades, porque a sinalização se mostrou excelente.

Caminho, logo após o Alfenas Tênis Clube de Alfenas/MG

Assim, depois de algum tempo, passamos ao lado da Paróquia de Nossa Senhora Aparecida, defronte à Prefeitura Municipal, transitamos diante da antiga Estação Rodoviária da cidade e logo adentramos em bairros periféricos.

Depois de passar diante do Alfenas Tênis Clube, principiamos a ascender levemente em direção ao Kart Club local, onde, finalmente, acessamos uma estrada de terra.

Início da estrada de terra

O trajeto se revelou surpreendentemente belo e agreste, pois nos encontrávamos cercados, de ambos os lados, por pastos e culturas diversificadas.

Então, conforme havíamos combinado, cada um iniciou o seu Caminho, em particular.

Dessa forma, eu prossegui num ritmo confortável, enquanto a Célia seguia fazendo suas fotos e curtindo a natureza.

Mais abaixo, eu passei pela Fazenda Vale do Sol, onde um senhor, num grande curral, ainda ordenhava um rebanho de vacas.

Subindo, transitei por um local sombreado, ladeado por magníficas palmeiras imperiais e flores de São João.

Depois de 14 quilômetros percorridos, eu finalmente acabei por desaguar na rodovia BR-491, que liga Alfenas a Paraguaçu.

Então, observando a sinalização, eu fleti à esquerda, e segui caminhando em asfalto, num trajeto perigoso, pois a rodovia não tem acostamento.

Dois mil e quinhentos metros adiante, obedecendo à sinalização, eu acessei uma estrada de terra à direita, onde uma placa do Caminho avisava que ainda restavam 7 quilômetros até o Bairro Matão.

Entrada para o Bairro Matão

Ali encontrei o Sr. Diogo, que aguardava o ônibus que o levaria à cidade de Paraguaçu/MG, onde tinha uma consulta agendada no Posto Médico do Município.

O local era bastante sombreado, de forma que fiz ali uma pausa para hidratação e ingestão de uma barra de cereais, enquanto conversávamos animadamente.

Contou-me que eu estava no Bairro dos Esteves, cuja referência principal era uma capelinha que eu vira à direita, um quilômetro antes de ali aportar.

Quando soube a intenção de minha “viagem”, animou-se bastante, inclusive levantou minha mochila várias vezes, para conferir seu peso.

Depois afirmou que seus 9 quilos no início seriam suportáveis, mas depois de 2 horas de caminhada, o peso seria multiplicado por dois.

Contou-me, ainda, que ele iria a Aparecida no mês de agosto, com o pessoal daquele bairro, mas em excursão rodoviária, já que em face das sequelas trazidas por seu trabalho no campo, não detinha mais condições físicas para lá chegar caminhando.

Ficamos ali papeando alegremente, por uns 15 minutos, até que a Célia ali chegou.

Efetivamente, a conversa estava interessante, porém o sol invernal brilhava forte num céu azul e sem nuvens, de maneira que após despedidas fraternas, prosseguimos adiante.

O roteiro seguiu bastante sombreado, até que no final de um pequeno outeiro, passamos a caminhar entre uma imensa plantação de pés de café.

Pausa para merecido lanche

Nesse ponto, mais disposto e animado, eu prossegui sozinho, enquanto a Célia fazia uma pausa para descanso.

Mais adiante, no entanto, voltei a transitar em meio a grandes pastagens, até que, quando restavam três quilômetros para chegar, eu passei diante da Fazenda Experimental da Unifenas, que ali mantém um Campus experimental.

Na sequência, eu atravessei um ribeirão sobre uma ponte, deixei outra grande propriedade agrícola à esquerda, então, principiei a ascender até que, mais acima, eu adentrei ao Bairro Matão.

Capela de São Geraldo, bairro Matão/Alfenas/MG

E logo chegava à casa de Dona Liduína e do Sr. Fernando, local onde ficamos hospedados.

Registre-se, por oportuno, que a residência é bastante humilde e as instalações que me foram disponibilizadas para pernoite, também eram muito simples, porém a tranquilidade e o calor humano, transmitidos pelo simpático casal, fez toda a diferença.

Matão é um bairro pertencente à cidade de Alfenas, localizado próximo a um dos braços da represa de Furnas, por isso, um local bastante frequentado pelos amantes da pesca.

Nele residem aproximadamente 200 habitantes, e além de dois bares e uma igrejinha, não possui qualquer outro tipo de comércio como padaria, mercearia, farmácia, etc.

Depois de um lauto almoço e uma necessária “siesta”, saí dar um giro pelo povoado, e pude fotografar a Capela de São Geraldo, o patrono dessa minúscula aldeia.

Um dos braços da represa de Furnas, visto desde o Bairro Matão/Alfenas-MG

Também, observei e fotografei, ao longe, a represa de Furnas, situada num vale de esplendorosa beleza.

Para a noite, dona Duína caprichou no cardápio, e pudemos ingerir um delicioso “tutu com feijão”.

E, como de praxe, me recolhi cedo, pois o local é de razoável altimetria, e fazia bastante frio naquela noite.

Com Dona Duína e Sr. Fernando, bairro Matão/Alfenas-MG

IMPRESSÃO PESSOAL – Uma jornada curta, fácil e, extremamente agradável. O ponto negativo se situa no percurso em asfalto, através da rodovia BR-491, porquanto a mesma não possui acostamento e conta com um trânsito expressivo de veículos. Afora o trajeto pela cidade de Alfenas e por seus bairros periféricos, todo o restante do roteiro discorre por locais arejados e de excelsa beleza, pois a natureza nesse entorno está perfeitamente preservada. O acolhimento no Bairro Matão ainda está bastante precário, contudo o calor humano ali exalado compensa toda a rusticidade do pernoite.

2ª Etapa: BAIRRO MATÃO (ALFENAS) à GUAIAPAVA (PARAGUAÇU) – 28 quilômetros