4ª etapa – GANDESA à FABARA – 30 quilômetros

4ª etapa – GANDESA à FABARA – 30 quilômetros

"Se você acredita que é capaz, ignore a opinião dos outros e siga em frente. Nem sempre é bom saber o que outros pensam.

Pronto para iniciar mais uma jornada. São 6 h da manhã. Temperatura externa: 6 °C.

A jornada também seria de razoável extensão, lembrando que estávamos num sábado, dia que o comércio fecha mais cedo.

Ademais, consultando meus apontamentos, verifiquei que em Fabara não existia hotel, pensão, albergue ou estabelecimentos do gênero.

Porém, como soubera que uma senhora da localidade alugava apartamentos para turistas e peregrinos, fiz contato no dia anterior, reservei um quarto e fiquei tranquilo quanto ao quesito pernoite.

Como tomei conhecimento pelo guia que portava, que a primeira parte da etapa seria feita por uma rodovia vicinal asfaltada, resolvi sair bem cedo.

Mais um dia amanhecendo e eu animado na trilha.

A temperatura externa era de 6 °C quando deixei o local de pernoite e me dirigi para a saída da cidade onde, depois de ultrapassar sob a rodovia C-43 por um túnel, iniciei minha solitária caminhada com a lanterna na mão.

Caminhando em direção a um grande Parque Eólico.

O caminho levemente ascendente, em seu primeiro trecho, me levou a transitar entre vinhedos e plantações de oliveiras.

Com o dia quase amanhecendo, 5 quilômetros percorridos em bom ritmo, encontrei um cruzamento de caminhos, com boa demarcação.

Ali havia a alternativa de seguir à direita, em direção à cidade de Vilalba dels Arcs, para depois unir-se novamente com o roteiro oficial, pouco antes da cidade de Batea.

O interesse principal dessa variante reside na forte tradição jacobeia dessa localidade, mas acresceria 8 quilômetros em meu percurso, por isso o descartei e segui em frente.

O sol finalmente aparece. No céu, um festival de cores.

O roteiro, em ascendência, me levou a caminhar um bom tempo ao lado de um grande complexo de captação de energia eólica, onde as hélices acopladas nas altas torres giravam freneticamente, em face do forte vento matutino.

O cenário prosseguiu igual, sem bosques, e com grandes vinhedos a me ladearem nesse tramo.

Descendendo em direção à cidade de Batea.

Depois de atingir o topo do morro, principiei a descender com força e, mais adiante, acessei a rodovia T-723 e, por ela, adentrei em Batea.

Adentrando em Batea.

De antiga origem, a vila encravada na comarca catalana de “Terra Alta”, se supõe ser uma antiga povoação “intercavona Adeba”, pois em sua proximidade se identificaram dois sítios arqueológicos dos séculos VIII e VII a.C.: Torre Madrina y Tozal del Moro.

Em seu bem conservado patrimônio histórico, se destaca a igreja de São Miguel, de estilo neoclássico.

Eminentemente agrícola, o município é formado pelas antigas vilas de Pinyeres e Algars, sendo o último povoado da Tarragona, por estar situado quase na fronteira com Aragón.

A "Calle Mayor" de Batea.

Em seu “casco viejo” predominam ruas com arcos, resquícios da era medieval, sobretudo, em sua “Calle Mayor” (sec. XIV).

Sua população atual é de 1.975 habitantes.

No "casco viejo" de  Batea.

Eu atravessei a povoação de forma retilínea e me surpreendi com o número de tratores que estavam deixando a pequena vila em direção ao trabalho.

Era quase 9 horas e contei, ao menos, 30 desses veículos se encaminhando para as propriedades rurais, onde o forte é o cultivo de oliveiras e amêndoas.

Igreja matriz de  Batea.

No final da “Calle Mayor”, eu girei à direita, e logo estava diante da igreja matriz da cidade, cujo padroeiro é São Miguel.

Depois de 3 quilômetros, enfim, vou deixar o asfalto. Estrada de terra, à esquerda.

Após bater fotos, principiei a descender, passei próximo de vários galpões industriais e, mais abaixo, acessei uma rodovia, por onde segui 3 quilômetros caminhando.

O famoso cruzeiro  de “La Creu de la Vall”.

Então, avistei à esquerda, um cruzeiro recentemente restaurado, nominado de “La Creu de la Vall”.

Início da estrada de terra. Trecho sem sombras e empoeirado.

Naquele local, as flechas me encaminharam para uma estrada de terra poeirenta, que seguiu em leve ascenso, em meio a extensos oliveirais, a tônica desse trecho.

O caminho prosseguiu solitário, em meio a grandes propriedades, onde observei também infindáveis parreirais.

Muita uva e oliveiras no entorno, mas nada de sombras.

O sol forte e o clima seco me obrigavam a hidratar a cada 15 minutos.

Durante a primeira parte do percurso, não avistei vivalma e nem cruzei com veículos.

Por sorte, salvo algumas exceções perfeitamente compreensíveis, esse tramo está bem sinalizado.

Nesse trecho, extensos oliveirais.

Até porque o roteiro dá várias voltas e, em determinados momentos, parecia que eu estava regredindo em minha jornada.

Na verdade, existem vários cruzamentos e, por isso mesmo, a atenção do caminhante deve ser redobrada, porque nem sempre o rumo sinalizado coincide com aquilo que ele imagina.

O sol já incomodava nesse horário.

Depois de mais 5 quilômetros percorridos, eu convergi para um caminho mais largo e, a partir desse local, a sinalização melhorou sensivelmente.

Nesse tramo, o Caminho está muito bem sinalizado.

Mas, era porque ali coincidiam 3 caminhos diferentes, inclusive, o Caminho Jacobeu de BTT (bicicletas).

Nesse local, ocorre o encontro de três caminhos diferentes. O peregrino precisa ficar muito atento para não se perder.

Em determinado momento a estrada descendeu e segui por quase uma hora caminhando por um grande vale, onde o forte era as incontáveis plantações de oliveira.

Essa planta medra com sucesso em terras secas e empedradas, aquilo que ocorria no caso presente.

Descendendo em direção a extenso vale.

Praticamente não encontrei sombras nesse tramo, porém o caminho se mostrou agradável e sempre com pequenas variações de altimetria.

Vale deserto e integralmente sem sombras.

Em determinado lugar, num cruzamento, onde notei numerosos sinais jacobeus, eu deixei a Catalunha para entrar na Província de Aragón, cuja capital é Huesca.

Ultrapassando o rio Algars.

Dois quilômetros abaixo eu cruzei o rio Algars que, na realidade, é a fronteira natural com a Província de Aragón, depois segui à esquerda, em leve ascenso.

Mais acima, eu passei a transitar sobre um piso empedrado, já em zona urbana, e logo adentrei em Favara, minha meta para aquele dia.

Na cidade funcionou por muitos anos a Pensão Oliver, contudo, por motivos que desconheço, ela se encontra fechada.

Adentrando em Fabara, cidade simpática e limpa.

No centro da pequena povoação eu fiz contato telefônico com a senhora Teresa, e logo ela apareceu para me levar até o local em que ficaria hospedado.

Trata-se de uma casa com 3 quartos e um banheiro, este a ser compartilhado.

Porém, como naquele dia eu era o único hóspede, todo o espaço ali disponível, como sala de TV, cozinha, etc, ficou ao meu inteiro dispor.

Nesse dia, eu me hospedei próximo dessa pracinha.

Pelo pouso, bastante confortável, gastei 20 Euros.

Depois do banho, e com a lavanderia só para mim, aproveitei para lavar roupas e meias, até porque, brilhava um sol forte, fazia calor, assim, todo o material logo secou.

Local onde fiz minhas refeições em Fabara.

Para almoçar utilizei os serviços do restaurante El Farolet, onde gastei 12 Euros para ingerir um saboroso “menu del dia”.

Situada a 127 quilômetros de Zaragoza e 29 quilômetros de Caspe, sua capital comarcal, Favara possui uma população de 1.300 pessoas, e está encravada entre os rios Matarraña, que a atravessa, e o rio el Algars.

Uma rua de Favara.

Existem provas de assentos na povoação desde o ano 5000 a.C, e o El Roquizal del Rullo, situado dentro do município da cidade, a 4 quilômetros do centro da localidade, é considerado o assentamento da Idade do Ferro mais importante da província de Aragón.

Testemunha da romanização da península ibérica, a localidade conserva um dos melhores exemplos de arquitetura funerária do império romano.

Uma rua localizada no "casco viejo" da cidade.

Trata-se do mausoléu de Lúcio Emílio Lupus, edificado no final do século II, nominado de “O Mausoléu de Fabara”, declarado monumento nacional em 1931, mais conhecido no povoado como “Caseta de los Moros”.

Apesar da presença humana na localidade remontar séculos, seu nome aparece pela primeira vez na história em meados do século XIII, coincidindo sua origem com a chegada dos muçulmanos na península ibérica, a partir do ano 711.

Placa explicativa sobre a igreja matriz da cidade.

Sua igreja matriz, dedicada a São João Batista, é do século XIII e pertenceu a ordem de Malta.

Ponte sobre o rio Matarraña, por onde eu seguiria no dia seguinte.

Depois da necessária soneca, fui verificar o local por onde eu deixaria a localidade na manhã seguinte.

Queria também visitar o Mausoléu romano de Lucius Emilius Lupus, monumento nacional, porém vi meus planos frustrados, pois ele se encontra dentro de um espaço cercado, onde não há atendentes ou vigias.

Prédio do Ayuntamiento, que se encontrava fechado nesse dia.

Assim, eu teria que retirar as chaves no prédio do Ayuntamiento, depois devolvê-las ali, porém, elas ficam disponíveis somente pela manhã, de segunda a sexta-feira.

Estávamos num sábado, de forma que bastante decepcionado, transferi tal visitação para uma outra ocasião.

O amigo Daniel é o quarto, da esquerda para a direita.

No retorno, ao passar próximo de um parque, conversei com alguns jovens e, para minha surpresa, encontrei um jovem brasileiro, o Daniel, que habita nessa cidade, onde é professor de lutas marciais.

Trocamos experiências, fizemos uma foto, depois eu segui em direção ao centro do povoado.

Igreja matriz de Favara.

Ali pude fotografar a igreja matriz da cidade, construída no século XIII, cujo padroeiro é São João Batista.

À noite, não pude adquirir víveres para utilizar na jornada sequente, pois encontrei o comércio fechado, então, retornei ao bar Farolet e ali, além de alguns copos de vinho tinto, ingeri também um saboroso “bocadillo”.

A cidade de Favara, vista de longe.

Também me provi de água e chocolates, para ingestão na trilha.

E logo retornei ao local de pernoite, pois fazia muito frio, ventava bastante e o céu estava nublado.

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