30ª Jornada - O PINO a SANTIAGO DE COMPOSTELA

30ª Jornada – O Pino a Santiago de Compostela - 20 quilômetros: “A derradeira jornada!” 

Seria minha última etapa no Caminho, de maneira que resolvi sair muito cedo, como forma de aportar com tranquilidade em Santiago, a tempo de me hospedar em um hotel e assistir à missa das 12 h, que é oficiada diariamente na Catedral Compostelana.

Assim, levantei às 5 h e às 5 h 20 min, iniciava minha derradeira jornada, sob um céu coalhado de estrelas, enquanto me protegia de um gélido vento que soprava no rumo sul.

Eu estava hospedado quase no final da avenida principal da cidade, e o correto seria retroceder uns 400 metros até a praça “del Ayuntamento”, pois depois de atravessá-la em sentido longitudinal, eu poderia acessar, mais acima, o roteiro oficial do caminho.

Se assim o fizesse, eu caminharia algum tempo por dentro de um grande bosque de eucaliptos e como estava muito escuro ainda, mesmo utilizando minha lanterna, corria o risco de me perder.

Então, optei por seguir diretamente por asfalto, pois, mais adiante, o roteiro sinalizado que recorria à direita, passaria para o lado esquerdo da rodovia e, então, nesse local específico, eu adentraria à Rota.

Isso posto, segui tranquilamente pelo acostamento da “carretera” onde, em face do horário extemporâneo, praticamente inexistia tráfego de veículos, de forma que pude caminhar sem pressa, sob um sepulcral silêncio, e debaixo de um céu claro, cravejado de brilhantes estrelas.

Três quilômetros percorridos, depois de vencer uma pequena ladeira, já em Cimadevilla, finalmente me reencontrei com as setas amarelas e a partir desse marco, prossegui em terra, por uma estrada muito bem sinalizada, que me levou, mais adiante, a bordejar o aeroporto de Santiago de Compostela.

Esse trecho já era meu velho conhecido, pois já havia transitado nele em minhas peregrinações anteriores, de maneira que não tive dificuldade em encontrar meu rumo, embora até aquele momento, estivesse integralmente sozinho no Caminho, porquanto não avistara nenhum ser vivo até aquele momento.

Na sequência, transitei por “a Esquipa” e depois, transpus uma célebre ponte, já na cidade de Lavacolla, onde os antigos peregrinos se banhavam no rio que ali passa, para chegarem asseados e com uma melhor aparência em Santiago, conforme conta o padre francês Aymeric Picaud, em seu relato do ano de 1.135.

Enquanto rememorava tais fatos históricos, iniciei a ascensão de uma severa ladeira em direção às vilas de Valamaior e Neiro.

Em seguida, passei junto aos estúdios da “Televisión de Galícia” e da “Televisioón Española de Galícia e, nesse ponto, pela primeira vez naquele dia, observei dois outros peregrinos caminhando à minha frente, que inferi, tivessem iniciado seu percurso a partir de um local mais próximo que o meu.

Às 8 h 20 m, depois de transitar por uma zona onde praticamente inexistem árvores, cheguei à San Marcos, um pequeno povoado onde se localiza o monte do Gozo.

E, imediatamente me recordei que, era ali, do alto dos 368 metros, que os antigos peregrinos avistavam as torres da Catedral de Santiago e desciam cantando aleluia, e o antigo refrão de “Ultreya”.

Contudo, é de se lembrar que nos dias atuais, tal visão está empanada pelas progressão urbanística dessa cidade Santa, de maneira que os edifícios alocados num bairro próximo, impedem tal visão.

Num albergue de grandes proporções ali existente, fiz uma pequena parada estratégica, apenas para carimbar minha credencial, e logo descia velozmente em direção à cidade, agora junto com outros caminhantes que nele haviam pernoitado.

Logo ultrapassei a Ponte de San Lázaro, onde há um monumento ao templário e a concentração urbana que avistei a partir desse local me anunciava que eu estava adentrando em Santiago.

Foram mais 5 quilômetros percorridos dentro de uma grande cidade, passando por bairros pobres, nobres, ricos, modernos, onde vivem seus 200.000 habitantes, até entrar na “Cidade Velha”.

 A partir desse marco, busquei as ruas corretas para aportar à porta principal da Catedral: “calle de los Concheros”, rua de San Pedro, “Puerta del Caminho”, “calle Casas Reales”, “Plaza de Cervantes”, “calle San Francisco” e, finalmente, a Plaza del Obradoiro.

 Naquele local, extremamente feliz, coração jubiloso e sob intensa emoção, postei-me para uma foto, posto que, uma vez mais, havia cumprido com êxito aquilo que eu havia proposto.

 Depois, cumpri o ritual do peregrino, qual seja, visitar o pórtico da Glória, abraçar Santiago e rezar em seu túmulo sob o altar-mor.

 Em seguida, me dirigi à Oficina de Turismo onde, após apresentar minha credencial para ser conferida, pude receber minha quarta Compostelana.

 Na sequência, me hospedei num hotel nas adjacências, tomei banho, fiz barba e retornei para a tradicional missa das 12 h, aonde eu e todos os demais que chegaram naquela data, foram homenageados.

Com meu amigo Maurício, peregrino francês, e sua esposa.

Ao final da celebração, fui com alguns amigos almoçar no restaurante Manolo, onde pudemos brindar longamente o sucesso de mais uma odisseia.

No dia seguinte fui à Finisterre e no outro retornei ao meu lar.                       

IMPRESSÃO PESSOAL – Uma etapa fácil e agradável, percorrida sob forte comoção por ser a derradeira de minha jornada. O aporte à Catedral Compostelana emociona e se torna inesquecível, porquanto encerra um ciclo e, em vista disso, impulsiona o peregrino de retorno à sua realidade.

 REFLEXÕES FINAIS