2023 – CAMINHO DA GRATIDÃO – TORRES/RS a NOVA TRENTO/SC – 423 QUILÔMETROS  -  (1ª Parte)


 A gratidão é o caminho para uma vida melhor, mais próspera e mais feliz!!

O projeto “Caminho da Gratidão” surgiu das experiências vividas pelos Peregrinos do Rio Grande do Sul da Cidade de Torres e do Extremo Sul Catarinense, das cidades de Sombrio e Balneário Gaivotas, com a finalidade de explorar e conhecer ainda mais e melhor os litorais catarinense e gaúcho, seus cenários de grandes belezas naturais e de uma infindável riqueza histórica, cultural e grande vocação turística, bem como, por ser uma população composta de muitos devotos, e apreciadores da natureza e de seus encantos.

Tendo como início a Igreja de São Domingos, localizada na cidade de Torres (RS), ou na Igreja Santo Antônio de Pádua, na cidade de Sombrio (SC), a aventura se estenderá até o Santuário da Santa Paulina, na cidade de Nova Trento (SC), contando com cerca de 420 quilômetros de extensão, peregrinação e contemplação, em uma rota cercada de belezas naturais e desafios aos peregrinos.

A sensação de percorrer e explorar um caminho conhecido com outros olhos remonta aos desbravadores, mas o ato de peregrinar traz, além disso, uma possibilidade de evolução espiritual, de paz, de contato com a natureza, de novos amigos, da busca por saúde e qualidade de vida. (Fonte: www.caminhodagratidao.org)

Expectante em conhecer esse novel roteiro, convidei o grande amigo Vinícius para me acompanhar em mais esta aventura de fé. Entusiasmados, aportamos em Torres/RS, marco inicial do Caminho da Gratidão, e no dia sequente demos início à nossa “viagem”. Um singelo resumo do que vivi nesses dias de intensa peregrinação, conto abaixo.

Em Torres/RS: diante do "Marco Zero", na véspera da partida.

1º dia: TORRES/RS a LAGOA DE FORA (BALNEÁRIO GAIVOTA/SC) – 30 QUILÔMETROS


Nós apeamos do ônibus na rodoviária e, imediatamente, nos dirigimos à Casa do Turista de Torres, local de entrega de nossas Credenciais Peregrinas. Na sequência, nos hospedamos no Farol Hotel, onde ficamos muito bem acomodados. Como ainda havia muito tempo livre, fomos visitar e fotografar a bela Igreja de São Domingos, a matriz da cidade e, posteriormente, seguimos até o morro do Farol, de onde se descortina uma vista maravilhosa de toda a orla.

O Guia do Peregrino desse roteiro recomenda que o caminhante permaneça ao menos um dia na cidade para desfrutar de seus encantos, contudo, eu já estivera na localidade como turista em duas ocasiões, portanto, conhecia bem suas principais atrações. E meu parceiro Vinícius, mesmo sendo neófito no local, estava, como eu, doido por seguir adiante, na verdade, assistir a estrada passar, vagarosamente, debaixo de nossos pés. O clima estava propício, embora com previsão de chuvas para breve, porém, ainda assim e de comum acordo, resolvemos partir na manhã seguinte.

Isto decidido, levantamos bem cedo, ingerimos frutas e chocolate, depois, seguimos até o “Marco Zero” do Caminho, situado diante da igreja de São Domingos. Ali nos posicionamos para fotos, depois, nos cumprimentamos, desejamo-nos, mutuamente, um “Bom Caminho”, e, repentinamente, partimos para a aventura quando meu relógio marcava, exatamente, 5h30. Infelizmente, a intempérie que se iniciara na madrugada não deu tréguas nesse dia e prosseguiu durante toda a jornada, obrigando-nos a caminhar com a capa de chuva e a mochila protegida. Então, ao invés de seguir pela orla marítima, envidamos um rumo direto pela zona urbana e, mais à frente, nós ultrapassamos o rio Mampituba por uma ponte, local onde se situa a divisa entre os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Na sequência, giramos à direita e transitamos diante da igreja de Nossa Senhora dos Navegantes, a matriz da pacata cidade de Passos de Torres, que ainda acordava. Seguindo adiante, logo acessamos uma ciclovia e prosseguimos cortando bairros periféricos, por calçadas situadas em ruas amplas e bem sinalizadas. Percorridos 6 quilômetros, numa bifurcação, nós tomamos à direita e, finalmente, passamos a pisar em terra, já no acesso à Estrada Geral que, por sinal, face ao horário, se encontrava bastante movimentada. O trajeto sequente, integralmente plano, e percorrido sob clima chuvoso e ventoso, mesclou piso em terra e bloquetes em alguns pequenos enclaves que encontramos no percurso. Assim, passamos, sucessivamente, pela entrada de Curralinhos, Morro dos Macacos e no 15º quilômetro, defronte à bela igreja de São Francisco, na Comunidade de Furacão (Passos de Torres), fizemos uma pausa para hidratação e ingestão de carboidratos, enquanto a renitente garoa persistia. A orla marítima estava distante um 3 quilômetros, todavia, em alguns locais, face ao silêncio reinante, podíamos ouvir o quebrar das ondas, sinal de que o mar estava agitado. Prosseguindo, logo passamos pelo bairro de Anita Garibaldi, situado no 20º quilômetro, onde há uma bela igreja dedicada a Nossa Senhora Aparecida. Seguimos sempre ladeados por grandes pastagens, onde o forte é o gado leiteiro e de corte. Mais adiante, chegamos à localidade de Rio Novo, onde há comércio e uma bela igreja dedicada a São José. A partir dali, caminhamos sobre piso asfáltico e, sem maiores novidades, chegamos ao bairro Lagoa de Fora, cuja sede é o Balneário Gaivota. Então, conforme combinado, contatei o Hotel Maria Rita, onde havia feito reserva, pois o translado estava incluso na diária. Porém, como o estabelecimento não dispunha de ninguém para nos resgatar naquele momento, telefonei para um taxista que, rapidamente, nos levou até à cidade de Sombrio, local de pernoite nesse dia, distante 3 quilômetros dali. À tarde, após um lauto almoço e a necessária soneca, assim, que a garoa fez uma pausa, fomos visitar e fotografar a igreja matriz desse belo povoado, cujo padroeiro é Santo Antônio; depois, seguimos até a Biblioteca Municipal carimbar nossa Credencial Peregrina. E, para nosso desencanto, a chuva prosseguiu noite afora.

Sobre a jornada do dia, diria que foi de grande extensão, contudo, integralmente plana e orlada de muito verde. A lamentar, o fato de que a intempérie grassou durante toda a etapa, assim, encontramos inúmeros locais alagados ou embarreados. Por sorte, ninguém caiu ou se machucou, um risco inerente quando ocorrem chuvas contínuas ou condições adversas.

Sombrio, uma bela e pacata cidade, teve sua colonização feita principalmente por açorianos, portugueses, italianos e alemães. Emancipada de Araranguá em 1953, dista 240 km de Florianópolis e está a, apenas, 7 km do mar. População: Aproximadamente, 31 mil habitantes.

Pernoite no Hotel Maria Rita: Excelente!  =  Almoço no Bistrô do Chef Churrascaria: Excelente!

Algumas fotos do percurso desse dia:

Igreja matriz de Torres/RS, dedicada a São Domingos.

Igreja de São Francisco, onde fizemos uma pausa na jornada inicial.

A bela igreja matriz de Sombrio/SC.

2º dia: LAGOA DE FORA (BALNEÁRIO GAIVOTA/SC) a BALNEÁRIO ARROIO DO SILVA/SC – 29 QUILÔMETROS


O café no hotel somente seria servido às 7 h, assim, ingerimos algo que havíamos adquirido no dia anterior e nos aprontamos. Gentilmente, conforme agendado, o Sr. Marcelo, proprietário do Hotel Maria Rita, nos apanhou às 5h30 e nos deixou, 15 minutos mais tarde, em Lagoa de Fora, exatamente, no lugar onde havíamos findado a jornada anterior. Bem dispostos e sob um chuvisco frio e persistente, acessamos a Estrada Geral e partimos confiantes. Inicialmente, enfrentamos um enorme retão arenoso, situado entre grandes pastagens, num trajeto silencioso e flanqueado de muito verde. Percorridos 8 quilômetros e obedecendo à sinalização, giramos à direita e após mais 4 quilômetros, chegamos à praia de Lagoinha onde, decepcionados, não encontramos comércio aberto, pois estávamos sedentos por ingerir um copo de café puro. Então, utilizamos um banco situado defronte à Lagoinha Materiais de Construção como apoio e rapidamente vestimos nossas capas protetoras, pois a chuva havia se  intensificado. Seguindo adiante, conseguíamos ver o mar pelas ruas perpendiculares, situado a uns 100 m de distância, e ele nos pareceu bem agitado, pois ouvíamos o forte quebrar das ondas. Caminhando sempre em solo arenoso e por uma estrada retilínea, a perder de vista, passamos, sucessivamente e sem novidades, pelas praias do Maracujá, Arpoador e da Caçamba, esta situada no 21º quilômetro. Ali, numa praça, fizemos uma pausa para descanso, hidratação e ingestão de uma banana. A partir desse local, prosseguimos quase ininterruptamente sobre piso asfáltico e depois de transitar por bairros periféricos movimentados, chegamos ao nosso destino do dia, sob chuviscos esparsos e uma brisa gelada. À tarde, assim que a chuva deu trégua, pudemos visitar a igreja matriz da cidade, cujo padroeiro é São Pedro Apóstolo.

Sobre a jornada desse dia, diria que ela foi fresca e tranquila, embora as retas intermináveis que se abrem à frente do caminhante possam gerar monotonia e um certo desalento. Mas elas, também, ensejam momentos de reflexão e um contato mais íntimo com o Criador. Infelizmente, uma fria garoa foi nossa companheira nesta etapa também.

Balneário Arroio do Silva se tornou município em 1995 e sua população fixa é de 14 mil almas, triplicando na alta temporada, face aos seus 22 quilômetros de aprazível orla marítima.

Pernoite: Pousada Mello: Excelente e preço bom!  =  Almoço: Restaurante Rancho’s Buffet: Nota 10!

Algumas fotos do percurso desse dia:

A Estrada Geral, integralmente retilínea nesse dia.

Os retões prosseguem, sob fino chuvisco nesse dia...

Ultrapassando a divisa de Municípios. A garoa dera uma trégua...

3º dia: BALNEÁRIO ARROIO DO SILVA/SC a BALNEÁRIO RINCÃO/SC – 31 QUILÔMETROS


À noite a chuva voltou para valer e quando partimos às 5h30 ela ainda caia com vigor. Bem protegidos pela capa, avançamos pela orla até o Morro dos Conventos, localizado no município de Araranguá, depois, descendemos pelo lado oposto e percorridos 11 quilômetros, utilizamos uma balsa para transpor o rio Araranguá que, neste local, mede quase 200 m de largura. Sequiosos, 700 metros adiante nós passamos pelo Tija Lanches, contudo, para nossa decepção, ela não tinha café pronto para nos servir. Prosseguindo, agora sobre bloquetes sextavados, e ainda sob forte temporal, caminhamos um bom tempo ladeados por imensas pastagens, até que no 16º quilômetro, chegamos ao Balneário Ilhas, onde fizemos uma pausa restauradora para descanso e hidratação. A chuva deu uma trégua quando avançamos pela barra do rio Araranguá, porém, em alguns trechos, precisamos utilizar a trilha dos carros, onde patinamos na areia fofa e molhada. Foi um percurso deveras cansativo, até que chegamos à passarela de acesso ao mar, já no Balneário Barra Velha. A partir dali, o trajeto foi pela praia e integralmente deserto, face ao clima chuvoso e frio. E quando avistamos a guarita de saída da orla em direção ao Balneário Rincão, precisamos atravessar a foz de um riacho, com água pelos joelhos. Uma das vantagens de estar molhado é que um pouco mais não faz diferença. Assim, depois de tanta umidade, nem nos preocupávamos nas esquinas, onde encontramos tudo inundado. Ensopados até os ossos, chegamos ao local de pernoite que, por sinal, foi bastante animado e divertido. À tarde, fomos visitar a linda igreja da localidade e, logo depois, a chuva voltou com vigor e prosseguiu noite adentro.

Diria que enfrentamos uma jornada desgastante nesse dia, mormente, pela extensão percorrida, bem como porque choveu o tempo todo. E a passagem pela barra do rio Araranguá foi, com certeza, um dos trechos mais desafiadores que encontramos nesse Caminho. Contudo, no global, uma etapa plena de paisagens deslumbrantes e momentos divertidos e inesquecíveis.

Balneário Rincão foi criado inicialmente como distrito de Içara, em 1999, elevando-se à categoria de município em 2003, porém só foi oficialmente instalado em 2013, sendo que sua população de 13 mil habitantes, salta para 200 mil no verão, face à sua privilegiada localização geográfica.

Pernoite: Pousada da Cida: Simples, mas acolhedora  =  Almoço: Bomboa Bar & Restaurante: Excelente!

Algumas fotos do percurso desse dia:

Caminhando pelas dunas na barra do rio Araranguá.

Trajeto pela orla, em direção ao Balneário Rincão. Praia deserta...

Quase chegando ao Balneário Rincão, pausa para descanso. Ninguém na praia...

4º dia: BALNEÁRIO RINCÃO/SC a BALNEÁRIO CAMPO BOM/SC – 23 QUILÔMETROS


Seria uma jornada de média extensão, assim, partimos mais tarde, às 6h30, com dia claro, mas, ainda sob forte garoa. A Cida, gentilmente, pois não estava incluso na diária, nos serviu um café forte e quente, desse modo, caminhamos animados e refortalecidos pela zona urbana, até que acessamos uma estrada de terra, depois de percorrer 2 quilômetros. O percurso se encontrava inundado e, em vários locais, atravessamos poças d’água e riachos com água pela canela. Mais à frente, nós transpusemos o rio Urussanga por uma ponte e logo estávamos transitando pelo Balneário Torneiro, onde encontramos tudo fechado. Prosseguindo, acessamos outra larga estrada de terra, situada em meio a pastagens e variadas culturas agrícolas, por onde marchamos sem pressa, curtindo o panorama. Finalmente, no 14º quilômetro, nós encontramos uma rodovia, giramos à direita e prosseguimento caminhando pelo acostamento. E logo chegamos ao Balneário Esplanada, mas precisamos ainda caminhar muito, por ruas alagadas, depois, ultrapassar o Balneário Copa 70, até chegar ao Balneário Campo Bom, onde nos hospedamos.

Sobre a linda jornada, diria que em dias normais ela não oferece nenhuma dificuldade, contudo, sob chuva e vento como ocorreu conosco, com inúmeros locais alagados, tornou-se desgastante, sobretudo, porque aportamos ao local de pernoite, como no dia anterior, molhados dos pés à cabeça.

Campo Bom é o maior balneário de Jaguaruna, com 9.900 m de orla marítima, e costuma receber um grande número de turistas durante a alta temporada. O clima tranquilo e a bela paisagem atraem diversos visitantes, que encontram nela um bom lugar para relaxar, tomar um refrescante banho de mar e repor as energias.

Pernoite: Casa de Veraneio da Adriana: Excelente!  =  Almoço: Restaurante Costa (marmitex): Muito Bom!

Algumas fotos do percurso desse dia:

Tudo alagado e a chuva não dava trégua.... Paisagens belíssimas a nos ladear.

Muita chuva nesse dia....

A praia de Balneário Campo Bom nesse dia...

5º dia: BALNEÁRIO CAMPO BOM/SC ao FAROL DE SANTA MARTA/SC – 35 QUILÔMETROS


O dia seria longo, por isso improvisamos um café bem cedo e partimos às 5 h, sob uma fria e irritante garoa. Caminhamos em zona urbana por 7 quilômetros, até o Balneário Corrente, onde nós fletimos à esquerda, e prosseguimos pela rodovia SC-442, que apresentava escasso tráfego de veículos, por ser um domingo. Antes, passamos ao lado do famoso Chuveirão de Jaguaruna, local concorrido no verão. Seguindo adiante, agora sob forte aguaceiro, caminhamos até o 11º quilômetro sobre piso asfáltico, quando giramos à direita e prosseguimos por uma larga e plana estrada de terra. Logo avistamos a Lagoa Figueirinha e depois da Fazenda Arlete, pudemos ver parte da Lagoa da Encantada. A nos ladear nesse trecho, pastagens, nichos de mata nativa e plantações de milho. De passagem pelo bairro Laranjal, pudemos fotografar a bela igreja de Nossa Senhora das Graças que, infelizmente, se encontrava fechada. Finalmente, no 20º quilômetro nós acessamos a rodovia SC-100 e 500 m adiante, fizemos uma providencial pausa no Caldo de Cana Matos, onde nos alimentamos e ingerimos um copo de café supimpa. Prosseguindo, nós transitamos, sucessivamente, pelos bairros Garopaba Sul e Camacho, onde avistamos variado comércio. Próximo dali está situado o Sambaqui Elefante Branco, considerado o maior do mundo, medindo 200 m de comprimento por 30 m de altura, numa área de 10 hectares. Porém, não o avistamos, face ao mau tempo. E sempre sobre piso duro, nós caminhamos mais 6 quilômetros, até chegar ao Farol de Santa Marta, ainda debaixo de uma forte garoa. Infelizmente, não encontramos restaurante em funcionamento na pequena vila. Salvou-nos o Supermercado Cardosão, onde adquirimos lanches para o almoço, jantar e café da manhã.

Sobre a dolorida jornada, diria que apesar da beleza do entorno, foi nela que mais caminhamos em termos de extensão. Além disso, o tempo todo sob chuvas, em alguns momentos, torrenciais. Acresça-se, que 2/3 desta etapa ocorreu sobre piso duro, um tormento para os pés. E, por derradeiro, o lugar de pernoite não nos permitiu ingerir uma refeição variada e quente, complemento indispensável para quem está percorrendo longas distâncias a pé.

O Farol de Santa Marta está localizado no Cabo de Santa Marta, no município de Laguna/SC. O local é o primeiro acidente geográfico brasileiro, registrado em mapas por volta de 1500. Inaugurado em 1891 e projetado por franceses, o Farol tem 29 m de altura, e está posicionado a 75 m acima do nível do mar. O local também é uma das melhores regiões para se avistar as baleias francas.

Pernoite: Pousada Genoveva: Excelente! Recomendo! =  Almoço/Jantar: Lanches

Algumas fotos do percurso desse dia:

Chuva e frio, a tônica dessa etapa... Paisagens exuberantes!

A chuva não deu trégua. Tudo alagado...

Quase chegando ao Farol de Santa Marta.

6º dia: FAROL DE SANTA MARTA/SC a LAGUNA/SC – 20 QUILÔMETROS


A chuva prosseguiu durante toda a noite, contudo, às 7 horas, quando partimos, ela havia cessado momentaneamente. Seguimos animados, mas nem tínhamos chegado próximo ao Farol, 700 m à frente, quando ela voltou com força e nos acompanhou enquanto percorríamos a pequena orla desse simpático enclave, onde encontramos o comércio fechado. Na sequência, seguimos até o ápice de um pequeno outeiro por uma trilha escorregadia, mas o difícil mesmo foi descender pelo lado oposto, sobre pedras lisas e garoa incessante. Já no plano, caminhamos 4 quilômetros com água pela canela, pela praia Grande, em alguns locais, face aos córregos que desaguam no mar, transformados em riachos pela chuva. Na praia da Galheta, nós atravessamos um pequeno povoado e por uma estrada arenosa e inundada em vários trechos, onde só trafegavam carros 4x4, nós seguimos até a SC-100, e fletimos à direita. O restante do percurso, até a barra de Laguna, foi percorrido por uma ciclovia bem sinalizada, situada junto à rodovia. Um barco nos levou até o outro lado do canal e durante o curto percurso avistamos alguns botos, que auxiliam os moradores na pesca com tarrafa. No continente, acessamos uma larga avenida e pelo calçadão à beira mar da praia do Mar Grosso, logo chegávamos ao local de pernoite.

Em dias normais, essa seria uma das mais belas jornadas do roteiro, no entanto, sob a chuva intermitente, tornou-se desafiadora, mormente, porque ultrapassamos vários locais inundados, com água pela canela. Porém, no global, uma etapa fácil e de pequena extensão. Laguna é uma cidade encantadora, dotada de ótimos hotéis e restaurantes.

Laguna, cidade de acontecimentos memoráveis da história de Santa Catarina, também passou a ser a capital da República Juliana (depois e antes do estado extinto denominado Província de Santa Catarina), terra natal de Anita Garibaldi, a famosa Heroína dos Dois Mundos. Anteriormente, Santo Antônio dos Anjos da Laguna (padroeiro), denominação concedida por Domingos de Brito Peixoto, que fundou a cidade em 1676, e reduzida para a Laguna dos dias de hoje. População: 44 mil habitantes.

Pernoite: Hotel Renascença: Muito bom e barato! =  Almoço: Restaurante do Hotel Atlântico Sul: Ótimo!

Algumas fotos do percurso desse dia:

Deixando o Farol de Santa Marta, no topo de um outeiro: chovia demais!

Atravessando a barra de Laguna num barco.

A cidade de Laguna já aparece do outro lado da barra.

 7° dia: LAGUNA/SC a BAIRRO VILA NOVA DE IMBITUBA/SC – 28 QUILÔMETROS


A etapa seria longa, assim, partimos às 5h30, mas já com claridade. Surpreendentemente, o sol logo deu as caras, tornando tudo mais nítido e bonito. Finda a área urbana, nós acessamos uma ciclovia que beirava a Praia do Gi, por onde caminhamos até o 8º quilômetro. Então, observamos a Pedra do Frade, à direita, e logo passamos a caminhar na areia, já na Praia do Sol, mas já sem sol, infelizmente. Logo no início, precisamos atravessar um riacho com água pelos joelhos e forte correnteza, incidente que nos agastou, sobremaneira. O trajeto seguiu junto à orla e foi de grande beleza, embora a praia se encontrasse coalhada de algas e troncos de árvores em alguns trechos. Percorridos 18 quilômetros, próximo do Morro do Itapirubá, nós transitamos por uma pequena vila de pescadores, onde lanchamos, pois há comércio variado. Prosseguindo, logo passamos diante do prédio que abriga o Centro Nacional de Conservação da Baleia Franca. Depois, acessamos a praia da Guaiuba e foi caminhando ao lado do mar que chegamos ao nosso local de pernoite, situado numa vila de grande plasticidade.

Sobre a jornada, de razoável extensão, diria que ela foi tranquila e luminosa em seu início, tirante os riachos que transpusemos com água pela canela e joelhos, um poderoso incremento para redundar em bolhas nos pés, fruto das chuvas incessantes que enfrentamos nos primeiros dias. No global, uma etapa de grande extensão, mas integralmente plana e orlada de belezas naturais incomuns.

O Bairro de Vila Nova possui ótimas pousadas, comércio diversificado, bons restaurantes, condomínios de luxo, excelente praia e está situado a 5 quilômetros do centro de Imbituba.

Pernoite: Pousada Cheiro de Mar: Espetacular!  =  Almoço: Restaurante Casa dos Sabores: Excelente!

Algumas fotos do percurso desse dia:

Logo após sair de Laguna, o caminho segue por uma ciclovia.

Atravessando um encorpado riacho da Praia do Sol... água pela canela.

Nesse trecho, praia com muitas algas...

Caminhar em dupla é sempre mais seguro e agradável.

Descanso merecido... Quase chegando em Vila Nova de Imbituba.

8° dia: BAIRRO VILA NOVA  DE IMBITUBA/SC a PRAIA DO ROSA (IMBITUBA/SC) – 19 QUILÔMETROS


A jornada seria de pequena amplitude, mas havia um complicador no caminho: a transposição da barra da Lagoa de Ibiraquera. Por isso, partimos às 6 h, já com dia claro, mas com tempo nublado, promessa de chuvas no horizonte. O primeiro trecho, integralmente urbano e situado à beira da rodovia, nos levou até a entrada de Imbituba, localidade que transpusemos pela marginal, utilizando calçadas e, na falta delas, os gramados existentes nas laterais. Percorridos 6 quilômetros, no Mirante da Praia do Porto, fizemos uma pausa para admirar a paisagem e fotografar o porto da cidade, por sinal, extremamente movimentado naquele horário. No local, observei um interessante monumento, chamado de “Batalha Naval de Imbituba – Batismo de Fogo de Anita Garibaldi, em 04/11/1839”. Trata-se de um busto da heroína dos dois mundos, dois canhões e uma placa que relata a batalha de fogo vivida pela catarinense ao lado de Giuseppe Garibaldi, na cidade de Imbituba, em 1839. Prosseguindo, descendemos por uma rodovia vicinal pouco movimentada e, mais abaixo, fizemos uma pausa no Minimercado da Ziza para lanche e ingestão de um copo de café puro. Depois, reanimados, prosseguimos margeando a praia da Ribanceira por uma via calçada que, em alguns trechos, se encontrava em obras. E, percorridos 14 quilômetros, sob um clima ventoso e nublado, chegamos à Barra do Ibiraquera. Para nosso desespero, ela estava com vazão plena, numa largura de quase 100 m. Enquanto planejávamos como atravessar para o outro lado, os “Anjos do Caminho” se materializaram. Primeiramente, na pessoa do Sr. Paulo, residente local, que nos dissuadiu de transpor o canal a pé, face à violência da correnteza. Segundo ele, o caudal fora aberto no dia anterior pela Defesa Civil, para dar vazão à cheia da lagoa. Depois, ao saber que éramos peregrinos, contatou um taxista, o Sr. Francisco, um “Anjo Gaúcho”, que nos transportou gratuitamente para o outro lado da Barra, após rodar quase 16 quilômetros. Algo, inimaginável nos dias atuais. Já na praia da Luz, caminhamos em direção à trilha do Porto Novo, que transpõe um grande rochedo. Ao descendermos bruscamente pelo lado oposto, visualizamos a linda orla, depois, encontramos uma via calçada por bloquetes e em ascenso, que nos levou ao centro do bairro Praia do Rosa, distante uns 900 m do mar, local de nosso pernoite. À tardezinha, confirmando a previsão, o clima mudou e a partir das 18 h, teve início um violento temporal, que se alongou noite e madrugada afora.

Quanto à jornada, diria que ela foi marcante, mormente pelo auxílio essencial e abnegado a nós prestado para atravessarmos a barra do Ibiraquera, com segurança. Depois, a trilha do Porto Novo, embora exigente em alguns entremeios, nos propiciou vistas fabulosas do entorno. E a beleza da Praia do Rosa correspondeu, integralmente, à sua fama.

A Praia do Rosa é o lugar perfeito para aqueles que procuram descanso em meio a natureza. Rosa, como é carinhosamente chamada, está localizada no município de Imbituba, a 90 km de Florianópolis e a apenas 20 km de Garopaba. No local há inúmeras pousadas, farto comércio e bons restaurantes. Atualmente, a Praia do Rosa é conhecida e reconhecida internacionalmente, estando entre as 30 praias mais lindas do mundo.

RESUMO DO DIA - Pernoite: Pousada Recanto do Rosa: Ótima!  =  Almoço: Sila’s Restaurante: Nota 10!

Algumas fotos do percurso desse dia:

No Mirante da Praia do Porto, em Imbituba/SC.

Em descenso, para acessar a Praia da Luz.

A maravilhosa Praia do Rosa, em Imbituba/SC.

9° dia: PRAIA DO ROSA (IMBITUBA/SC) a GAROPABA/SC – 18 QUILÔMETROS


Ainda chovia forte quando partimos às 6 h, bem protegidos por nossas capas, pois a vida de peregrino é assim mesmo: enfrentar o que Deus manda. Sem maiores novidades, ao chegar à orla, seguimos pela areia e, no final desta, acessamos a Trilha da Caranha, de grande beleza natural, que une a Praia do Ouvidor à Praia da Barra, em Garopaba. Em dias normais, deve ser um percurso de fabulosas belezas naturais, pois há vários mirantes em seu percurso. No entanto, sob temporal, como a enfrentamos, tornou-se perigosa e em vários trechos a senda se transformara em riachos que desciam a montanha, tornando-se escorregadia e insegura. Porém, com extremo cuidado, conseguimos sair na praia da Barra ilesos. O desafio seguinte foi vencer a Barrinha da Ferrugem, que estava com vazão muito acima do normal, obrigando-nos a atravessá-la com água pela cintura. No final da Praia da Ferrugem, onde se desenrolava uma competição de surf, fizemos uma pausa para descansar e conferir nossos pertences, junto ao bar do Zado que, por sinal, estava fechado. Prosseguindo, acessamos um rodovia que, alguns quilômetros adiante, no deixou diante do Condomínio Caminho do Rei, onde nos identificamos na portaria, depois, enfrentamos íngreme ascenso. O trecho seguinte, foi feito pelo topo da montanha, com vistas incríveis, inclusive, da praia do Silveira. Ali transitamos pela trilha conhecida como “Caminho do Rei”, pois segundo os nativos, D. João VI teria feito esse trajeto quando veio ao Brasil visitar as fronteiras com a Espanha, durante o Tratado de Tordesilhas. Ainda reza a lenda, que diversos tesouros foram escondidos nessa vereda, durante a sua passagem pela região. No final, um abrupto descenso nos levou ao centro de Garopaba, ainda sob forte aguaceiro que, nessa data (12/10), um feriado santo, não deu tréguas o dia todo. Por sorte, ao chegarmos ensopados até a alma na pousada que eu reservara, fomos otimamente acolhidos pelos proprietários, que nos receberam com vivas, café quentíssimo e lanches.

Sobre a jornada, de pequena extensão, deve ser uma das mais belas do percurso, em dias ensolarados. No entanto, sob intempérie, tornou-se arriscada e árdua em alguns trechos, mormente na Trilha da Caranha, um dos mais fortes entraves que superamos no roteiro. No global, etapa belíssima, infelizmente, empanada pela chuva incessante.

O nome Garopaba tem origem indígena e significa "enseada de barcos". A cidade é um concorrido destino do litoral Sul Catarinense, com 10 belíssimas praias. Algumas de suas orlas são ótimas para a prática do surf, trazendo entusiastas do Brasil inteiro. Destaque para as praias Ferrugem e Silveira, que já foram palco de campeonatos internacionais. População: 24 mil pessoas.

Pernoite: Pousada Recanto do Basílio: Ótima!  =  Almoço: Restaurante e Pizzaria  Vitale: Nota 10!

Algumas fotos do percurso desse dia:

Muita chuva nessa etapa...

Muita chuva e a orla estava agitada, por conta do vento...

Chuva forte, o tempo todo...