3º dia: A RÚA DE VALDEORRAS a QUIROGA – 28 quilômetros

Por baixo de todas as nossas aparentes diferenças, todos partilhamos as mesmas necessidades e medos humanos; estamos todos no mesmo caminho, guiando-nos uns aos outros.” (Dan Millman)

Deixei o local de pernoite às 6 h 30 min e precisei retornar quase mil metros para me enlaçar novamente com o traçado do roteiro, no centro da localidade.

À saída de A Rúa, me levou a caminhar pela velha rodovia LU-933, sendo que os primeiros quilômetros foram sobre piso asfáltico, mas essa via abriga pouco tráfego de veículos, e dela, caminhando pelo alto da colina, detinha formosas vistas do rio Sil, da Autovia Nacional-120 e das vias férreas que me acompanharam nesse trajeto, pelo lado esquerdo.

Por sinal, supõe-se que essa rodovia por onde eu caminhava tenha sido uma via romana secundária, que partia da via XVIII ou Via Nova, para continuar pela costa do rio Sil, depois, por Montefurado, Quiroga, Monforte de Lemos e Puente de Belesar.

Percorridos 7 quilômetros sem grande esforço, eu deixei a rodovia e logo passei pela pequena vila de Albaredos, onde tudo estava fechado e silencioso.

Na sequência, passei a descender a montanha por uma trilha lisa, pedregosa e extremamente exigente, onde foi difícil manter o equilíbrio, face às chuvas recentes.

Já no plano, parei num local deserto, onde havia uma caixa com frutas à venda, sendo que o peregrino escolhe o que quer e doa aquilo que pode, inserindo o montante numa caixa de moedas ali existente.

Prosseguindo, logo transitei por Montefurado, outra minúscula povoação onde não avistei vivalma, tudo estava silencioso e o clima reinante no lugar me pareceu profundamente sorumbático.

Por sinal, é famoso nessa localidade o “Túnel de Montefurado”, construído no séculos II, uma magna obra de engenharia deixada pelos romanos; são 400 m escavados na rocha para desviar o curso do rio Sil e facilitar a extração do ouro.

Prosseguindo, acessei uma trilha empedrada e isolada, que seguiu em forte ascenso e que no seu topo, me levou a outra rodovia vicinal asfaltada, por onde segui ainda em leve ascenso.

Percorridos 15 quilômetros, obedecendo à sinalização, eu adentrei à direita, numa trilha rural, situada sob frondosa mata, num trajeto espetacular, hidratado e extremamente deserto, um dos trechos mais belos e emblemáticos que encontrei nesse Caminho.

Pouco adiante, em ascenso, passei diante da “Capilla das Farrapas”, uma pequena igrejinha de construção antiga e peculiar, situada num local ermo e distante de tudo.

Seguindo adiante, ainda em ascenso, mas agora por asfalto, atravessei um belo bosque de eucaliptos que, em seu final me levou a transitar por Bendilló, outra pequena vila onde também não há estabelecimentos comerciais.

Na sequência, enfrentei um brusco e perigoso descenso em ziguezague pela encosta de um morro, utilizando uma trilha extremamente pedregosa, outro grande desafio dessa bela jornada.

Já no plano, prossegui beirando a rodovia nacional, utilizando uma via vicinal paralela, depois, mais adiante, transitei por Soldón, outra minúscula vila sem comércio.

Na sequência, ultrapassei o rio Soldón por uma ponte, segui algum tempo por uma rodovia asfaltada, depois, por um túnel, ultrapassei as vias férreas e logo cheguei em Os Novais, outra aldeia sem serviços.

Na saída desse pequeno "pueblo", eu segui por um caminho de terra que rodeia o Castelo de Os Novais, outro local emblemático, construído entre os séculos X e XIII, no topo de um penhasco; foi residência da Ordem Hospitaleira dos Cavaleiros de São João, o que revela sua importância nesse trajeto, já que sua defesa abarcava desde o rio Sil até as terras de Incio, incluindo o maciço de Caurel.

Trata-se de um conjunto formado por um torreão defensivo de planta quadrada e uma construção anexa conhecida como Palácio de la Encomienda, sendo que ele albergou no vale de Quiroga a primeira sede dos cavaleiros da ordem militar e hospitalaria de San Juán de Jerusalém, que depois se transformou na Ordem de Malta.

Na sequência, segui por uma trilha boscosa em descenso, depois, por uma ponte medieval eu transpus um riacho e ascendi pelo outro lado, por outra trilha pedregosa, situada em meio a espessa mata, em outro trajeto espetacular.

Quanto emergi desse trecho boscoso, já avistava, ao longe e abaixo, a cidade de Quiroga, minha meta nesse dia.

Então, em sequência, transitei pelo povoado de Caspedro, segui por ruas bem sinalizadas e logo adentrava em zona urbana.

Até esse jornada ainda não havia avistado nenhum peregrino, embora tivesse conhecimento que havia dois casais à minha frente.

Algumas fotos dessa etapa:

Vista desde a rodovia por onde eu caminhava, no início da jornada.

Adentrando em Alvaredos.

Descenso íngreme e perigoso.

O descenso prossegue, agora sobre pedras.

Frutas à venda, num local ermo... no caso, doa-se o que puder.

Placa explicativa.

O rio Sil corre espremido nesse trecho..

Trecho ermo e matoso, um dos mais belos desse roteiro.

"Capilla das Farrapas"... longe de tudo.

Outro descenso forte...

Vistas maravilhosas.. no caso, um parreiral.

O Castelo de Os Novais, antiga fortaleza templária.

Trecho final, por outro bosque nativo.. simplesmente, maravilhoso!

A avenida principal da cidade de Quiroga.

Quiroga é um município da província de Lugo e está situado na zona conhecida como Ribeira Sacra.

Crê-se que o topônimo Quiroga procede de “Queiruga”, denominação que se dá a um brejo comum.

Sua história está ligada aos romanos que passaram por aqui buscando o ouro do rio Sil, como assim testemunha o Túnel de Montefurado, do século III, um gigantesco lavador do apreciado metal.

A cidade tem uma disposição alargada seguindo o eixo de sua “calle Real”.

Sua igreja matriz, cujo padroeiro é San Martín, tem planta de cruz latina, com duas torres e data da segunda metade do século XIX;

Queiroga conta com um interessante museu etnográfico, que permite conhecer mais a fundo o patrimônio cultura e econômico dessa comarca vinculada a produção de vinhos e da atividade mineira.

População: 3.300 pessoas.

Prédio onde funciona uma Prefeitura de Quiroga.

RESUMO DO DIA - Clima: Nublado e ventoso o tempo todo, variando a temperatura entre 10 e 16 graus.

Pernoite: Hostal Quiper - Cêntrico - Apartamento individual excelente - Preço: 17 Euros;

Almoço: Restaurante Chapacuña - Ótimo! Preço: 10 Euros o “menú del dia”.

AVALIAÇÃO PESSOAL - Uma jornada de extensão razoável, que apresenta alguns entraves altimétricos e trechos desafiadores em seu trajeto. Infelizmente, não há comércio nas vilas por onde discorre o seu traçado e o percurso seguiu sempre à meia altura, oferecendo vistas magníficas do rio Sil, que avança preso no fundo de um profundo vale. E, por ele, entrei na Ribeira Sacra, terra de bons vinhos e onde se concentra numerosas igrejas e monastérios medievais. No global, uma etapa plena de surpresas e belas paisagens, com alguns tramos exigentes e outros feitos pelo interior de bosques nativos, de inesquecível beleza.


4º dia: QUIROGA a MONFORTE DE LEMOS – 36 quilômetros