04 – ALBA DE YELTES a CIUDAD RODRIGO – 26 quilômetros

Siga sempre seu coração! Quando seu coração se sentir em paz, tenha certeza, você está no caminho certo.” (Angie Karan) 


A jornada não seria de grande extensão, contudo, estávamos num sábado e eu queria conhecer e visitar com tranquilidade a famosa e amuralhada Ciudad Rodrigo, meu destino final nesse dia.

Assim, deixei Alba de Yeltes às 6 h, seguindo por uma rodovia asfaltada e, na sequência, por uma ponte, eu cruzei o rio Morasverdes, depois, transitei pela Cañada Real nas proximidades da fazenda El Mejorito e, finalmente, transpus o rio Gavilanes, já nas proximidades de Bocacara, por uma ligação que Ángel Blanco classifica como “a mais bela ponte do século XIX existente em Salamanca”.

Então, depois de caminhar 8 quilômetros, atravessei tranquilamente a pequena povoação e poderia recuperar forças em um de seus bares ou fazer compras em alguma “tienda” antes de prosseguir em frente, porém eu estava bem fornido.

Assim, observando atentamente a sinalização, após transitar próximo das piscinas municipais, eu acessei uma estrada que vai em direção a Pedro Toro, que percorri para entrar numa bonita floresta de sobro, que os habitantes de Bocacara exploram para a extração da cortiça.

Alguns espécimes desse gênero me surpreenderam por conta de seu tamanho, enquanto, observando à esquerda, minha vista se estendia até a Serra de Francia.

Depois, prossegui paralelo ao curso do Vale de Valobral, até chegar a uma encruzilhada, onde girei à direita, para acessar a Cañada de las Vacas.

Esse foi outro trecho fantástico, onde caminhei sempre entre grandes pastagens, sendo o forte a presença do gado leiteiro, mas também avistei cavalos, porcos e rebanhos de ovelhas.

Por mais de uma hora “viajei” solitário, sem avistar vivalma, comungando com a natureza e observando o voo das aves no céu.

O sol iluminava toda a paisagem ao meu redor, porém o clima persistia fresco e frio, assim, eu caminhava quase sem fazer esforço, por um dos mais belos entremeios que encontrei nesse belíssimo e silencioso roteiro.

Mais adiante, prossegui entre alcornoques, ao longo de uma ravina, até chegar a um ponto que, ao invés de prosseguir em frente, as flechas me encaminharam para uma trilha em forte declive, que seguiu através da vegetação que cobre a Serra de Peronilla.

E durante o descenso dessa cordilheira, eu já tinha ampla vista de Ciudad Rodrigo, do vale do rio Águeda e algumas pastagens, onde sobressaiam densas florestas de encinas.

Quando se findou a descida da serra, eu atravessei a rodovia que liga Ciudad Rodrigo à cidade de Pedro Toro e, então, a paisagem mudou radicalmente, quando abandonei as florestas de encinas e teve início uma área plana, desprovida de árvores.

Segui, então, por uma estrada larga e plana até uma encruzilhada, onde está localizada a ermida de Nossa Senhora de la Peña de Francia. 

Neste ponto, abandonei a Cañada de las Vacas, que atravessa o rio Águeda e vai juntar-se à Cañada Real de Extremadura para, depois, prosseguir até Puerto de Perales.

O caminho prosseguiu ao longo de uma trilha, em direção a uma área de moradias que, imediatamente, me levou, depois de atravessar a rodovia A-62, à entrada de Ciudad Rodrigo.

Abaluartada, construída segundo o modelo de Vauban, adentrei à cidade pela bela Puerta del Sol, sendo que ela seria a primeira das quatro fortalezas deste tipo que eu encontraria nesse roteiro, até Santiago de Compostela.

Algumas fotos do percurso desse dia:

Mais um dia nascendo..

Transitando por Bocacara.

Um bosque de sobros.

Transitando pela Cañada de Las Vacas.

Companheiros de aventura, à beira da trilha.

Trechos ermos e integralmente silenciosos.

Mais "companheiros" que encontrei nesse dia..

Em descenso pela Serra de Peronilla.

Etapa também muito bem sinalizada.

Trecho final por áreas planas e descampadas.

A Plaza Mayor da belíssima Ciudad Rodrigo.

Ciudad Rodrigo era originalmente uma vila celta, sob o nome de Mirobriga, no entanto, ela foi posteriormente tomada pelos romanos durante a conquista da Lusitânia e nomeada de Augustobriga.

Depois de uma tentativa de repovoamento em tempos de Alfonso VI pelo Conde D. Rodrigo, de onde derivou seu nome atual, ela seria habitada novamente, somente no século XII, como baluarte contra o inimigo muçulmano e o nascente reino português.

Este rei seria um grande benfeitor da cidade, cercando-a de muralhas que, reformadas, principalmente no século XVIII, ainda circundam a sua parte central.

Sua catedral, do século XII, foi construída num híbrido estilo arquitetônico, onde sobressaem o gótico tardio e o românico.

Igreja matriz da cidade, vista desde a torre do castelo.

Trata-se de uma cidade famosa, muito conhecida pelo seu centro histórico protegido por muralhas, que nos transporta literalmente no tempo.

A maioria de suas edificações datam dos séculos XV e XVI, altura em que a cidade viveu seus tempos de esplendor.

Das construções, destacam-se a muralha medieval, do século XII, a Catedral e o Castelo.

Guerras e destruições devastaram a cidade, a secessão de Portugal, a sucessão à extinção da Casa da Áustria e, finalmente, no último século, a Guerra da Independência que, depois de um cerco duro de vários meses, seria conquistado pelos exércitos de Napoleão.

Um antigo solar do século XV, integralmente preservado.

A cidade seria liberada meses depois por Lord Wellington, a quem as Cortes de Cádiz concederam o título de duque de Ciudad Rodrigo.

Depois disso, a paz finalmente chegou e, desde então, Ciudad Rodrigo vem trabalhando para ser uma cidade moderna e dinâmica, mas com um enorme respeito pelo esplêndido passado que busca conservar, através do estudo de sua história e da conservação de sua enorme herança monumental.

Patrimônio que possibilitou fosse em 1944, declarado seu recinto amuralhado como Monumento Histórico Artístico.

População atual: Aproximadamente, 14 mil habitantes.

O local onde me hospedei nesse dia. Em 1556, ele albergava a cadeia da cidade.

RESUMO DO DIA: Clima: Frio de manhã, depois do sol, variando a temperatura entre 6 e 15 graus.

Pernoite: Hospederia Castillo Plaza Mayor - Excelente! Localização cêntrica!

Almoço num dos restaurantes existentes no “casco histórico”: Ótimo! - Preço: 8 Euros o “menu del dia”.

IMPRESSÃO PESSOAL: Depois de três dias perdido na natureza e solidão da Cañada Real de Extremadura, nessa etapa eu cheguei à primeira grande cidade que encontrei nesse caminho: Ciudad Rodrigo, a antiga “Mirobriga Vettonum” dos vetones. No geral, trata-se de uma jornada de extensão média, com diferenças altimétricas, e com possibilidade de abastecimento em Bocacara, povoado situado a 8 milhas do início da jornada. A restante do trajeto foi feito entre alcornoques, por locais silenciosos e vazios, plenos de verde e expressiva beleza. A chegada, desta vez, numa cidade grande, foi eloquente e pela primeira vez no Caminho, pernoitei muito bem, num hotel cêntrico.