A PEREGRINAÇÃO

Minha aventura começou num sábado à tarde, quando embarquei em São Paulo, rumo à Espanha.

No dia seguinte, após breve translado pelo aeroporto de Madri, desembarquei em San Sebastian, capital da Província de Guipúzcoa, pertencente ao País Basco, cuja capital é Vitória.

Rapidamente, tomei um táxi, que me conduziu até a cidade de Irún, mais especificamente, nas cercanias da “Puente Santiago” que transpõe o rio Bidasoa, e serve de marco divisor entre a Espanha e França.

Em seguida, registrei-me no Hotel Astana, situado próximo à divisa, onde está localizado o “marco zero” do Caminho do Norte, local de partida na manhã seguinte.

Na sequência, almocei e depois de uma boa soneca, segui observando as flechas amarelas pela Avenida de Iparralde e “calle Paseo Colon” até o centro da cidade.

A origem de Irún remonta a época pré-romana, porém sua fundação oficial aparece mencionada nos registros como no ano de 1.203.

Sua condição de fronteira e passagem obrigatória dos viajantes lhe proporcionou importância e crescimento, sobretudo por abrigar uma importante estação ferroviária internacional, além de estar localizada em uma das únicas passagens “transpirenaicas” de transporte por trem.

Sobre o rio Bidasoa.

Atualmente, com 65 mil habitantes, aparenta ser una cidade bem maior do que realmente é, em razão de seu aspecto e dimensão orográfica,

Acresça-se que sua zona histórica não é apenas uma, ou seja, os restos desta estão repartidos por toda a urbe, devido ao incêndio provocado em 1936, que destruiu a maior parte desse povoado, e deu origem à sua reconstrução.

Numa praça movimentada tomei informações com transeuntes, depois prossegui até o albergue de peregrinos local, onde mantive uma proveitosa conversa com o hospitaleiro Demétrio, o qual me deu valiosos conselhos, carimbou minha credencial e mostrou as instalações ali existentes.

No local travei contato com um peregrino espanhol de nome Javier, natural de Valência e que, tal como eu, iniciaria o Caminho no dia posterior.

Conversamos bastante e senti uma grande empatia por meu interlocutor, uma pessoa alegre, despojada e fã incondicional de meu país.

Mais tarde, retornei ao local de pernoite e, após um rápido lanche atravessei a Ponte e coloquei meus pés em solo francês.

Com cerca de 14.000 habitantes, Hendaye no francês ou Hendaya no Espanhol, a cidade onde me encontrava pertence a província de Guipuzcoa, País Vasco.

Trata-se de uma urbe secular, que até 1.654 era apenas um pequeno bairro de Urrugne, sendo uma das paróquias mais antigas do Labourd, território da França.

Desde o século XVI, as cidades de Hendaye e Irun estiveram em constantes guerras, principalmente devido aos tratados de pesca, às questões referentes ao rio de fronteira, etc.

Com o hospitaleiro Demétrio.

A tal ponto que, em 1.793, ela foi totalmente destruída, sendo seus habitantes mortos ou foragidos.

Longos anos foram necessários à sua reedificação e seu desenvolvimento ocorreu, principalmente, após 1.864, com a chegada da ferrovia, incrementando consideravelmente a economia da cidade pelo tráfego comercial entre França e Espanha.

Em 1925 foi criada a "A Praia", uma nova estação do Caminho de Ferro, consolidando-se o turismo a partir da construção de um cassino e de vários hotéis.

Também o Castelo de Abbadia (1864) e o golfe do Domínio da Abbadia atraíram numerosos turistas.

Já estava no quarto, preparando-me para dormir, quando me lembrei de pedir proteção ao Santo Apóstolo.

Então, recorri às “Orações de Santiago” transcritas em meu caderninho de anotações e com muita fé e devoção, rezei: 

“Apóstolo Santiago,

Escolhido entre os primeiros,

Tu foste o primeiro a beber

No cálice do Senhor,

E tu és o grande protetor dos peregrinos;

Faz-nos fortes na fé

E alegres na esperança,

Em nosso caminhar

De peregrino,

Seguindo o caminho

Da vida de Cristo,

E alenta-nos para que,

Finalmente,

Alcancemos a glória De Deus Pai,

Assim Seja!”

Oração do Peregrino (Frei Clemente Kesselmeier, OFM)

Senhor, Deus, Pai de infinita ternura, estou a caminho.

No tempo, minha vocação é escalar a montanha da vida com fé, coragem e amor.

Sei que não andarei sozinho.

Uma multidão de anjos caminha comigo, motivada pela sede de felicidade, pela busca de vinho e pão.

Sentirei a tua presença amiga em todos os passos da jornada.

Com tua força, Senhor, eu vencerei todos os abismos.

Na tua luz contemplarei a beleza das flores, a grandeza das florestas, as maravilhas do nascer e do por do sol.

Que minha caminhada seja um canto de gratidão, um poema de amor, uma fonte num dia quente para saciar a minha sede e infundir coragem e alegria para perseverar no caminho, até alcançar o cume da plenitude no eterno encontro contigo, Senhor.

Na Catedral de Santiago de Compostela.

Amém!

                                                                                                                            BREVE HISTÓRIA