2020 - TRILHA DO PICO DAS CABRAS E FAZENDA BONFIM – 18 QUILÔMETROS 

Chegue longe, vá para perto, ande mais um pouco. Viva, viaje, faça planos e os desfaça. Conheça gente, ame a natureza e se entregue aos prazeres de quem está aberto para aprender cada dia mais.” 

Joaquim Egídio é um distrito assentado em uma região de beleza natural ímpar e localizado muito próxima de sua sede.

Um local apropriado para a prática de atividades esportivas como “mountain bike”, motociclismo, cavalgada, caminhadas e, até ou mesmo, um simples culto à natureza.

Diante de tantas estradas de terra que cortam as propriedades e serras da região, encontra-se o Pico das Cabras e a Fazenda Bonfim, logradouros emblemáticos, famosos e antiquíssimos, que fazem parte da história de Campinas.

Para visualizar tais locais “in-loco”, fui caminhar por essas veredas e um pouco do que vi e senti na trilha, conto abaixo:

JOAQUIM EGÍDIO

Nem só de indústrias e empresas de tecnologia vive Campinas, pois há programas bem bacanas para ser feito na maior cidade do interior paulista. 

As construções históricas, as ruas de paralelepípedo e o cenário de montanhas dos distritos mais turísticos de Campinas atraem uma multidão de famílias nos fins de semana. 

Para chegar lá é só pegar a Avenida Doutor Moraes Sales, atravessar a Rodovia D. Pedro I e seguir em frente.

Entre as atrações das estradas e trilhas de Joaquim Egídio estão fazendas deslumbrantes, como a histórica Fazenda Santa Maria ou a Fazenda Bonfim, tesouros arquitetônicos como a Usina Salto Grande, uma das primeiras hidrelétricas do país, ou o Bar da Cachoeira, com decoração bucólica e frequentado por praticantes de motocross, jipeiros e, claro, pessoas fazendo trilhas de mountain bike.

E essa região do interior de São Paulo também é privilegiada pelas paisagens, com relevo único e mata protegida pela Área de Proteção Ambiental-APA de Sousas e Joaquim Egídio. 

Prédio que abriga a Estação Marupiara, em Joaquim Egídio/SP.

Algumas trilhas cruzam o rio Jaguari, com trechos de água cristalina, ou o rio Atibaia.

Outra sobe até o Pico das Cabras, o ponto mais alto de Campinas, localizado a 1080 m de altitude.

Lá em cima a vista é incrível e dá para caminhar por um cenário bem diferente no interior de São Paulo, com destaque para a Pedra da Águia e a Pedra da Agulha.

Esse espaço abriga também o Observatório Municipal de Campinas Jean Nicolini, de onde é possível ver um lindo pôr do sol. 

Aos domingos, a partir do começo da noite, dependendo do clima, dá para observar o céu por um potente telescópio.

A entrada é paga, mas o ingresso para o observatório é barato e dá para chegar lá de carro.

Um ótimo programa para fazer com crianças em Campinas.

Restaurante Feijão com Tranqueira, local de partida nesse dia.

A MINHA CAMINHADA

Na caminhada da vida, siga sempre em frente, tendo a consciência que cada obstáculo vai tornar você mais forte.” 

Por uma questão de logística, fui de automóvel até o restaurante Feijão com Tranqueira, onde deixei estacionado o meu veículo.

O clima estava ameno, dia claro e ventoso, propício para caminhar.

Assim, depois de calibrar a mochila e apanhar meu cajado, dei início à aventura do dia, seguindo em frente pelo acostamento da rodovia José Bonifácio Coutinho Nogueira, que liga as cidades de Campinas e Morungaba/SP.

Bifurcação na rodovia. À esquerda, segue em direção à Morungaba/SP. Eu prossegui à direita.

Percorridos 3 quilômetros em bom ritmo, justamente no local em que o piso asfaltado se finda, há uma bifurcação e eu segui à direita, prosseguindo pela Estrada do Capricórnio, em direção ao Observatório homônimo. 

Início da Estrada do Capricórnio: tudo plano e vegetação exuberante.

Primeiramente, caminhei por locais planos e nesse trecho passei diante de inúmeras propriedades como o Condomínio Serra das Cabras, depois, defronte à entrada da Fazenda Nelore Pé da Serra. 

Entrada do Condomínio Serra das Cabras.

Sobre esse estabelecimento, há uma história interessante que copiei do site dessa fazenda:

Quem Éramos e Porque Mudamos: Nós do Pé Da Serra, distrito de Joaquim Egídio, em Campinas/SP, por volta do ano de 2013, criávamos gado nelore comum, com touro comum e produzíamos bezerros comuns para venda. Foi quando, em um leilão de gado comum, vimos que um vizinho vendia bezerros 25% mais caros que os nossos, e com razão, pois eram melhores; mas por que se a vacada dele não era melhor que a nossa?

Foi fácil descobrir que era o TOURO!!! No dia seguinte compramos um TOURO PO e colocamos num lote das mesmas vacas e quando começou a nascer a bezerrada, comparamos com os filhos de um touro comum (cabeceira de boiada) e não tivemos dúvidas: liquidamos todo o nosso gado comum. A partir desse entendimento passamos a investir num PLANTEL de NELORE PO e optamos pela genética JS da BJ, desenvolvida pelo Sr. Joca Simonsen (tio Joca), e a genética do Rancho Da Matinha, do Dr. Luciano, ambas com mais de 40 anos de seleção.

Entrada da Fazenda Nelore Pé da Serra.

Durante este processo, descobrimos que são necessários em torno de 500.000 touros todo ano para fazer a reposição no rebanho brasileiro, e que apenas entre 10% e 15% são TOUROS PO, ou seja, somente 50.000 a 70.000 TOUROS PO com controle da ABCZ e também andrológicos são comercializados no BRASIL. Sendo que, com 5 a 6 bezerros LA (meio sangue PO) você criador compra um TOURO PO que servirá seu plantel em torno de 6 a 7 anos.

Hoje, em nosso Plantel temos assessoria profissional, praticamos o IATF (inseminação artificial em tempo fixo) orientados nos cruzamentos pelo especialista Sr. EDUARDO PEREIRA, pelo Veterinário Dr. GUSTAVO ZANATTA e a inseminação por conta do Sr. LUIZ SORRISO; somos acompanhados pelo técnico da ABCZ Sr. DANIEL PUPIM COSTA.

Nossa missão é fornecer de maneira facilitada, com preços acessíveis, TOUROS, TOURINHOS, MATRIZES PURO DE ORIGEM colaborando assim com o melhoramento genético do rebanho BRASILEIRO da raça Nelore. Agende uma visita! (Nelson Cayres - Nelore Pé Da Serra).

Em ascenso pela Estrada do Capricórnio, em meio à frondosa mata.

Prosseguindo, passei diante do Sítio São Joaquim e, depois de percorrer 5 quilômetros e ultrapassar o ribeirão das Cabras por uma estreita ponte, o roteiro seguiu em forte ascendência e mais acima eu transitei diante da bela Fazenda São Pedro, onde girei à direita.

Ainda em ascenso, percorridos 6.500 m, parei para fotografar um belo edifício de cor azul, que abriga a Rainha da Paz Turca – Chão de Estrelas, um templo de oração e louvor a Virgem Maria, mas, atualmente, fechado por conta da quarentena imposta na cidade. 

Templo da Casa de Oração Rainha da Paz Turca.

Percorridos 7.500 metros e ainda em ascendência, transitei diante do Parque do Pico das Cabras, temporariamente fechado, por conta da atual pandemia.

Instalado numa área de aproximadamente 400.000 m2, o complexo é composto por Museu de Astronomia, formigário, radiotelescópio, telescópio, planetário, celostato e jardim sensorial.

Está instalado numa altitude de aproximadamente 1.000 m e serve como ponto de apoio para visitantes da região. 

Parque Pico das Cabras. No momento, fechado.

Do lado esquerdo da estrada se encontra o Observatório de Campinas, o primeiro do gênero a ser implantado no Brasil, tendo sido inaugurado em 15 de janeiro de 1977 e recebe cerca de 12 mil visitantes e estudantes por ano.

Em 1992, foi acrescentado ao nome do Observatório o nome de Jean Nicolini (1922-1991), em memória ao entusiasta da divulgação da ciência astronômica no Brasil e fundador da sociedade civil Observatório do Capricórnio, entidade que utiliza o espaço físico do Observatório Municipal para atuação conjunta. 

Entrada do Observatório de Campinas. Também fechado...

Possui quatro telescópios, com características distintas, sendo que o Telescópio de 0.5 m é muito utilizado para atividade com público e escolas devido a sua versatilidade no manuseio. 

No horizonte, ao longe, a cidade de Itatiba/SP.

Seguindo adiante, logo pude avistar do meu lado direito e ao longe, a cidade de Itatiba/SP, que aparecia no horizonte a uns 10 quilômetros de distância em linha reta. 

Estrada do Capricórnio. Tudo deserto nesse dia...

Então passei a caminhar pelo interior de um imenso bosque, num trajeto deserto e ainda levemente ascendente, cujo silêncio somente era quebrado pelo vento forte que açoitava a copa das árvores.

Percorridos 9 quilômetros, num local situado entre frondosos eucaliptais, eu cheguei a 1065 m de altitude, o ponto de maior altimetria nessa jornada. 

Trânsito pelo topo da serra, entre eucaliptais.

Até ali eu não havia avistado ninguém, mas, cem metros depois, eu fui ultrapassado por um grupo de ciclistas, que me saudaram alegremente e com espalhafato. 

Trajeto ermo e silencioso pelo topo da serra..

Mais adiante, já em descenso, o cenário se abriu, passei a caminhar com pastagens pelo meu lado esquerdo, e pude avistar ao longe, no horizonte, situada a uns 25 quilômetros em linha reta, a cidade de Campinas. 

Do topo do morro, vista, ao longe, da cidade de Campinas/SP.

Percorridos 10.500 m, eu acessei novamente à rodovia José Bonifácio Coutinho Nogueira, num local situado junto a uma grande torre da Embratel, sendo que à direita estava a cidade de Morungaba, situada a uns 8 quilômetros de distância.

Ali eu segui à esquerda, já retornando ao local de onde eu partira de manhã. 

Reencontro com a rodovia, junto à Torre da Embratel. Aqui eu prossegui à esquerda, em descenso.

Prosseguindo, em forte descenso, encontrei vários grupos de ciclistas galgando a serra, num trajeto íngreme, mas instigante. 

Descendendo, em direção à Fazenda Bonfim.

Já no plano, percorridos 12 quilômetros, passei diante da centenária e belíssima Fazenda Bonfim, um marco na história da cidade de Campinas: 

Ela configura-se como exemplar registro de patrimônio técnico-arquitetônico do apogeu da produção do café na cidade de Campinas.

A significativa linguagem do conjunto arquitetônico é marcada pelo desenho refinado e sofisticado da sede e das moradias a ela vinculadas.

Vista das instalações da centenária Fazenda Bonfim.

Reportagem do Jornal de Domingo, de 03/08/1986: “Depois de mais de 10 quilômetros rodando por uma estrada poeirenta, a Fazenda Bonfim surge como um oásis. É como fechar os olhos e voltar no tempo: a velha sede rodeada por palmeiras imperiais e alamedas de café entre os antigos terreiros atijolados está intacta: um verdadeiro monumento à história dos barões do café. Recentemente restaurada, a casa teve sua originalidade preservada ao máximo, sem abrir mão do conforto exigido atualmente.

Fundada em 1820 pelo capitão-mór Floriano de Camargo Penteado, na Serra de Cabras, a Fazenda Bonfim foi uma das mais bem estruturadas de café da região, com máquina de benefício a vapor. No inicio deste século chegou a ter 223 mil pés de café.

Casualmente, depois de passar por vários donos, a Fazenda Bonfim acabou voltando às mãos da família dos Barões de Itatiba. Em 1969, o casal Estanislau Martins e Maria Otília Penteado de Queirós - ela é descendente dos Barões de Itatiba e do Capitão-Mór Floriano – comprou a fazenda, sem saber que ela já havia pertencido a seus antepassados. Isso só foi descoberto algum tempo depois, através de uma pintura encontrada no porão da casa. Feito pelo pintor italiano Alfredo Morf, em l898, o quadro lembrava o estilo de antigas propriedades da família.

Localizada em local privilegiado, da fazenda é possível uma vista quase completa do centro de Campinas. É que lá fica o Pico do Brumado, ponto mais alto de Campinas, e onde os donos construíram um mirante. "Mas já estamos pensando até em derrubar o mirante porque os turistas que vão até lá acabam destruindo cercas e tudo que encontram pela frente. Na, época do cometa Halley aquilo lá virou uma loucura", conta Maria Otília.

Depois da descoberta de que a Fazenda já havia sido de antepassados da família, a afeição a Bonfim cresceu ainda mais.

Entrada da Fazenda Bonfim.

Mas, além dos laços familiares, Maria Otília disse que era preciso tornar a fazenda rentável, a exemplo de outras três que já possuíam na região. Dos 18 mil pés de café que tinha quando foi comprada em 1969, hoje ela tem 80 mil pés e a produção é considerada acima da média. A Bonfim tem hoje também 200 mil pés de eucaliptos; milho para a cilagem de 400 cabeças de gado que garantem a distribuição de 1,200 litros de leite B por dia - e feijão para o consumo de patrões e empregados. O atual proprietário cria ainda 35 cavalos da raça Mangalarga paulista.

Dos 12 terreiros de café, 8 ainda continuam em funcionamento. Os restantes foram desativados para o plantio das alamedas de café que circundam a casa e para o haras de criação dos cavalos. As senzalas já não existem. Foram demolidas há tempos e em seu lugar surgiram duas colônias que abrigam as 18 famílias que moram na fazenda. Mas entre as lembranças da Fazenda Bonfim do tempo do Império ainda restam o processo de lavagem do café por canaletas distribuídas pelos terreiros, e o pomar. Separado da casa principal por um muro alto e com "telhadinho", o pomar ainda tem pés de pêssego, jabuticaba, goiaba, mangas, maracujá, carambola e laranja, bem ao estilo da época dos barões.

Arquitetonicamente, a casa-sede da Fazenda Bonfim não tem a mesma ostentação de outras construções da época. Com 8 quartos e 2 alcovas, ela é ampla e confortável, mas sem a imponência de outras, como a Santa Maria ou a Trêz Pedras. Segundo o historiador José Celso de Mello Pupo, a varanda de entrada da casa-sede, pela disposição de sua planta, com o corredor iniciado na fachada principal, evidencia que teria sido, em outros tempos, uma escada, sem varanda e apenas com um pequeno patamar junto à porta.” (Fonte: www.cutter.unicamp.br)

Lago situado na entrada da Fazenda Bonfim.

Seguindo em frente, logo enfrentei uma forte, mas curta, aclividade, depois passei a descender novamente, sempre em meio a belíssimas paisagens. 

Depois da Fazenda Bonfim eu enfrentei um curto ascenso..

Percorridos 14 quilômetros, passei diante da entrada para a Trilha da Maria Nonna, um das próximas sendas que eu pretendo conhecer. 

Caminhando pelo topo do morro, clima fresco, paisagens campestres...

Um quilômetro abaixo eu me reencontrei com o asfalto, girei à direita e percorridos 18 quilômetros, cheguei diante do Restaurante Feijão com Tranqueira, o mesmo local de onde eu havia partido de manhã.

Então, após algumas fotos, adentrei em meu veículo e retornei ao meu lar. 

Com relação ao percurso, no global, diria que foi deveras desafiador, mas fui premiado com um dia maravilhoso e fresco, onde caminhar foi uma benção para o meu corpo e uma dádiva para o meu espírito.

No final, de volta ao Restaurante Feijão com Tranqueira.

FINAL

ORAÇÃO DO PEREGRINO!

"Senhor,

Que mandaste sair Abraão da sua terra,

E o defendeste em todos os caminhos,

Que acompanhaste o Teu povo, errante no deserto,

Que nos deste, nas visitas de Jesus, Teu Filho,

A cidade santa de Jerusalém,

Um modelo para as nossas peregrinações,

Concede-nos a Tua proteção.

Ao longo de toda a viagem que vamos iniciar,

Sê para nós,

A sombra que protege do sol,

O agasalho que defende do frio,

O abrigo que resguarde da chuva e da intempérie.

Anima-nos no cansaço,

Socorre-nos nas dificuldades,

Gratidão Senhor, por mais esse dia maravilhoso!

Livra-nos dos perigos,

Ensina-nos a aceitar a penitência da viagem,

A sair do egoísmo para fazer comunidade,

A ver-Te na beleza do mundo,

A amar-Te nos homens, nossos irmãos.

Ensina-nos a desculpar, uma compreensão,

Um sorrir e ajudar,

Guiados por Ti, atingiremos o nosso fim.

E reconfortados pela tua graça,

Regressaremos sãos e salvos,

Aos nossos lares e ao nosso trabalho,

Confiados em Ti, caminharemos em paz,

Até nos encontrarmos todos no céu.

Amém! "

Bom Caminho a todos! 

Junho / 2020