1ª etapa – FOZ DO RIO EBRO (DELTEBRE) à SANT CARLES DE LA RÀPITA – 33 quilômetros

1ª etapa – FOZ DO RIO EBRO (DELTEBRE) à SANT CARLES DE LA RÀPITA – 33 quilômetros

Vá firme na direção das suas metas. Porque o pensamento cria, o desejo atrai e a fé realiza.

O trajeto desse dia seria, teoricamente, de pequena extensão (23,2 km), visto que eu o adiantara em aproximadamente 10 quilômetros no dia anterior.

Ocorre que por meu primeiro dia de “viagem”, eu teria dificuldades com o peso da mochila, além de problemas com o calor, pois a região vivia um intenso “veranico”, com temperaturas altas para aquele início de primavera.

Assim, deixei o local de pernoite ainda no escuro, e segui observando atentamente ao GPS.

Praça da República Catalana, em Deltebre.

Uns 500 metros depois, cheguei à moderna Praça da República Catalana, onde encontrei tudo deserto, salvo pela passagem extemporânea de algum veículo.

Na sequência, acessei à novíssima ponte de Carrer Girona, por onde ultrapassei o rio Ebro que, nesse local, tem mais de 300 metros de extensão.

Já do lado oposto, passei a caminhar pelas ruas da cidade de Sant Jaume d'Enveja onde, surpreso e animado, encontrei a primeira flecha urbana desse Caminho, pintada numa placa de trânsito.

Igreja de Santiago, em Sant Jaume d'Enveja.

Sant Jaume d'Enveja está situada em pleno delta do rio Ebro e conta com mais de 3000 habitantes.

Ela foi construída sobre terrenos pantanosos e inóspitos, onde se instalaram, na época medieval, alguns pobres barracos, cujos proprietários viviam da exploração das salinas, agricultura e criação de gado.

Isto até 1860, quando implantaram um canal de irrigação, situado à direita do Ebro, que proporcionou um incremento no assentamento humano, em face do cultivo intensivo do arroz.

Hoje em dia, a atividade agrícola e o turismo, oferece belos passeios pela zona, os quais dão sustento à povoação ali existente.

Sua igreja matriz, tem como padroeiro Santiago.

Numa rua de Sant Jaume d'Enveja., a primeira flecha amarela que vi, pintada num poste.

Mas foi a única flecha que visualizei, de qualquer forma eu tinha as instruções do percurso, por isso segui adiante pelo acostamento da rodovia TV-3404, que corta longitudinalmente a pequena vila, depois prossegue entre extensos campos agrícolas.

O sol aparece, mais um dia nascendo.

Lentamente, o sol nasceu no horizonte, deixando tudo claro e nítido a minha volta.

Transitando à beira da rodovia TV-3404.

Esse trecho inicial é integralmente plano, ladeado, em toda a sua extensão, por imensas plantações de arroz, nessa época, ainda em fase de plantio, já que sua colheita é realizada nos meses de agosto e setembro.

Mais adiante, percorridos uns 3 quilômetros, encontrei uma rotatória e, observando atentamente às indicações no mapa que portava, eu girei à direita e prossegui pela rodovia TV-3405, ainda pelo acostamento, e no sentido contrário ao fluxo de

veículos.

Com as horas em avanço, o tráfego foi aumentando, mormente de caminhões, e eu segui atento ao meu GPS, porquanto necessitava saber exatamente por onde eu caminhava.

No Caminho, em direção à Sant Carles de La Rápita, estrada vicinal.

Dois quilômetros percorridos sob tensão e barulho, finalmente, encontrei uma estrada vicinal situada à esquerda, e rapidamente tive acesso por ela, onde segui indefinidamente, num rumo retilíneo, e em meio a imensas terras em fase de cultivo.

Uma hora depois, as indicações me remeteram à direita.

Então, por uma ponte, ultrapassei um canal de irrigação e, do lado oposto, surpreendentemente, encontrei uma senda em terra, localizada na lateral de uma rodovia, com uma cerca protetora de madeira em toda sua extensão.

Caminhando pelo Parque Natural do Delta do Ebro.

Para melhorar, o piso era em terra batida, e ela estava localizada ao lado de uma área que continha diversas lagoas, resultantes das cheias do rio Ebro, onde avistei inúmeras aves nadando.

Na verdade, eu estava caminhando dentro do Parque Natural do Delta do Ebro, criado porque durante o século XX se produziu uma exploração agrícola massiva e cresceram os assentamentos urbanos na região, por isso a preocupação com a

preservação dessa área.

Interior do Parque Natural do Delta do Ebro.

Justificando tal inquietude, o local foi declarado Parque Natural em 1983 e sua área foi ampliada em 1986, sendo que atualmente conta com uma extensão total de 7.736 hectares.

O número de exemplares de aves nesse santuário natural pode oscilar entre 50 mil e 100 mil, com mais de 300 espécimes diferentes.

Ali fiz uma pausa para descanso, enquanto admirava a paisagem que se descortinava no entorno.

Depois segui sem pressa, observando atentamente às nuances da vegetação e à flora que compunham o cenário por onde eu seguia.

Mirador existente no interior do Parque Natural do Delta do Ebro.

Em determinado trecho, encontrei um mirador e, de seu topo, pude admirar toda a região, bem como fazer fotos de tudo o que eu avistava no horizonte, num ângulo de 360 graus.

Interior do Parque Natural do Delta do Ebro e suas áreas alagadas.

Prosseguindo, logo entrei à esquerda numa rodovia vicinal asfaltada e, por ela, depois de mais dois quilômetros, adentrei em Poble Nou del Delta, que contém apenas 165 habitantes.

Essa pequeníssima povoação foi criada em 1955, pelo Instituto Nacional de Colonização, que ali assentou 97 famílias, para a exploração agrícola das Lagoas de Tancada e L’Encanyissada, onde são cultivados arrozais em larga escala.

Próximo da pequena vila se encontra a Casa Verde, que foi importada do Canadá em 1924, e era utilizada como lugar de repouso pelos caçadores.

Igreja matriz de  Poble Nou del Delta.

Atualmente, ela é a sede do Museu Ornitológico (150 espécies), contém uma torre de observação, além de um bar e restaurante.

No Caminho, em direção à Sant Carles de La Rápita, intermináveis planuras.

Eu cruzei a minúscula vila, fotografei sua igreja matriz, depois girei à direita e prossegui por asfalto, num percurso retilíneo e integralmente plano.

A sinalização, para meu espanto, estava com pintura recente e logo me levou a transitar por caminhos de terra, situados junto a canais de irrigação.

No Caminho, em direção à Sant Carles de La Rápita, tudo plano e retilíneo.

Caminhei um bom tempo tendo o mar Mediterrâneo, situado a curta distância, ao meu lado esquerdo.

Depois o roteiro se modificou e passei a transitar pelo lado direito da rodovia, sempre em meio a áreas cultivadas.

Caminho agradável e arejado, mas sem sombras.

E sem maiores atropelos fui me aproximando da área urbana, onde encontrei clubes de náutica, praias e ancoradouros.

Nesse derradeiro trecho, as flechas amarelas desapareceram.

Contudo, restando uns cinco quilômetros para o final da jornada, as setas amarelas misteriosamente desapareceram, e passei a navegar pelo meu GPS.

Será que a tinta havia acabado, pensei.

Finalmente, acessei a rodovia TV-3408 e, por ela, adentrei em Sant Carles de la Rápita, minha meta para aquele dia.

Adentrando em Sant Carles de La Rápita.

Ali me hospedei na Pensão Casa Albert, onde paguei 22 Euros a diária, por um excelente apartamento.

Após o necessário banho e a lavagem das roupas, fui almoçar no Restaurante “El Pescador”, onde gastei 10 Euros por um saudável “menu del dia”, regado a muito peixe, temperado por exóticas e deliciosas especiarias.

Certamente, obra da culinária local.

Depois, retornei à Pensão para descansar.

Uma das praças existentes em Sant Carles de La Rápita.

Sant Carles de la Rápita está situado na província de Tarragona e possui um importante porto marítimo.

Sua origem é árabe, daí a terminação “de lá Rápita”, já que era um centro religioso, espiritual e militar (Rábita).

Antes da reconquista cristã, esse local já era povoado, tal como consta de um documento de 1097, em que Ramón Berenguer III cede o castelo de la Rápita ao monastério de Sant Cugat.

Em 1260 os monges venderam o castelo e nele se instalou uma comunidade feminina que ali permaneceu até 1579.

Em meados do século XVIII, o rei Carlos III ordenou a construção de um porto na zona do Delta do Ebro, porque ele queria converter o porto de los Alfaques num dos principais do mar Mediterrâneo, de forma que entre 1780/1794, se construiu um canal de navegação que une a cidade de Amposta com La Rápita.

O mar Mediterrâneo, ao fundo.

Grande parte da arquitetura da cidade é de estilo neoclássico, fruto das obras iniciadas por Carlos III, destacando-se o edifício de “La Glorieta”, conhecido como igreja nova, que se encontra na parte superior da vila.

Essa edificação, na verdade, estava destinada a funções administrativas e foi declarado Monumento Nacional em 1984.

Sua igreja matriz está dedicada a Santíssima Trindade.

Na zona de La Torreta, se encontra a torre de La Guardiola, que aparece documentada pela primeira vez em 1483, da qual se conservam apenas suas ruínas.

Mais uma praça existente em Sant Carles de La Rápita.

Próximo da vila transcorre a rodovia N-340, cuja construção se iniciou em 11/07/1978, objetivando evitar o trânsito de veículos pelo interior da cidade.

Ela foi projetada depois que um caminhão carregado de gás propileno bateu contra a parede do Camping de Los Alfaques.

O resultado foi de 243 mortos, mais de 300 feridos graves, e a destruição da maior parte do acampamento.

Sua população atual é de 15 mil pessoas. 

Oficina de Turismo da cidade.

Depois de uma rápida soneca, me levantei e fui até a Oficina de Turismo da cidade, para carimbar minha credencial peregrina, bem como conhecer detalhes dessa magnífica cidade.

Posteriormente, pude observar suas praias, monumentos, e transitar por suas avenidas bem sinalizadas.

A grande marina existente na cidade.

Também, fui conhecer e fotografar sua concorrida marina, onde pude contar mais de 500 embarcações estacionadas, de todos os tipos e tamanhos, algumas sofisticadas, outras nem tanto.

Praia existente na orla de Sant Carles de La Rápita.

Caminhei por praças arejadas e bem cuidadas, depois fui conhecer o local por onde deixaria a cidade na manhã seguinte, pois sairia bem cedo.

Como de praxe, à noite optei por fazer um frugal lanche no quarto onde estava hospedado, e logo resolvi me deitar, pois, apesar da curta extensão da etapa vencida naquele dia, o calor fora opressivo e o peso da mochila me incomodara um pouco.

Preocupado, antes de dormir, fiz uma grande devassa em tudo que levava, visando eliminar itens supérfluos.

Porém, para minha decepção, nada encontrei que pudesse ser descartado de pronto, de forma que me conformei em prosseguir na mesma toada.

Por sorte, eu ainda transitaria por imensas planuras nas duas etapas seguintes, e não me defrontaria com nenhum obstáculo altimétrico, o que já era altamente reconfortador.

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